Os consumidores latino-americanos têm se mostrado bastante resilientes. No entanto, não se espera que a temporada de resultados reflita totalmente o ambiente econômico.
O mercado de ações não reflete a economia. No geral, a temporada de resultados nos EUA foi sólida. Até agora, 76% das empresas que divulgaram seus resultados superaram as expectativas de lucros (bastante alinhados um ambiente econômico resiliente, com uma taxa média de superação próxima a 4,5%), o que faz com que o consenso espere um aumento dos lucros do S&P 500 a.a. acima de 3%. Entre os principais impulsionadores: os consumidores! Despesas robustas contribuíram para que o setor de bens de consumo discricionário registrasse o maior crescimento de lucros entre todos os setores em 2023.
Do outro lado do oceano Atlântico, alguns campeões nacionais europeus também superaram as expectativas. Por outro lado, no geral, o mercado de ações europeu está passando neste momento pela “pior” temporada de resultados em quatro anos (fato que também se alinha a um ambiente econômico difícil).
Na América Latina, mesmo com a resiliência dos consumidores, não se espera que a temporada de lucros do quarto trimestre esteja alinhada com o ambiente econômico; afinal, os setores mais representativos no índice diferem significativamente dos presentes no S&P 500. Como mencionamos em nosso América Latina: O que esperar em 2024? há algumas semanas, a maioria dos indicadores econômicos na América Latina aponta para uma aterrissagem suave, assim como nos EUA. O crescimento se manteve resiliente (variando de país para país) e, na maioria das vezes, acima do potencial, enquanto uma lenta desinflação abriu caminho para a flexibilização (ainda maior) em toda a região. Diante disso, o mercado de ações não reflete a economia, conforme evidenciado este ano pelo desempenho insatisfatório do MSCI LatAm até o momento (apesar de um cenário econômico resiliente) e pelas rigorosas expectativas de lucros.
Em termos de desempenho, a América Latina ficou abaixo do esperado no acumulado do ano – com o Brasil (-4,1%) e Chile (-7,9%) sendo os mais atrasados, enquanto o Peru (+4,4%) foi o único a superar as expectativas. Em termos de avaliação, a América Latina está sendo negociada a -1,3 desvios padrão em comparação à sua média de 10 anos de 8,9 vezes o lucro por ação (P/L) – com a Colômbia apresentando a avaliação mais baixa a 5,6 vezes o P/L (-1,7 desvios padrão abaixo da média histórica), enquanto o Peru se destaca como o de custo mais elevado a 12,9 vezes o P/L (+0,3 desvios padrão acima da média histórica). Além disso, México, Chile e Brasil estão sendo negociados a 12,8x, 8,2x e 7,7x, respectivamente.
A América Latina ficou atrás de quase todas as outras regiões do mundo...
Variação de preço do acumulado do ano, em US$
... Predominantemente afetado pelo Brasil e Chile
Variação de preço do acumulado do ano, em US$
É previsto que a temporada de resultados do 4T23 seja difícil, com os principais detratores sendo os bens de consumo não duráveis, os materiais básicos e a energia
Expectativas de lucros do índice MSCI EM LatAm para o 4T23
Dentro dos setores que mais ficaram para trás, a maior parte do declínio foi principalmente atribuída a:
- Bens de consumo não duráveis: flutuações cambiais e mudança nas preferências dos consumidores em termos de alimentação.
- Materiais básicos: menor demanda da indústria de construção, preços flutuantes e custos operacionais mais altos.
- Energia: preços mais baixos de energia – principalmente petróleo.
Apesar da previsão de que os lucros em 2023 terminem de forma bastante desfavorável (a expectativa é de que o crescimento dos lucros neste período seja de -20,4% a.a.), esperamos ver uma recuperação ao longo de 2024, com uma previsão de crescimento de 10,0% a.a. Uma ressalva importante a fazer: um cenário de aterrissagem suave implica, ainda assim, uma desaceleração econômica.
É esperado que os lucros comecem a melhorar a partir daqui
Expectativas de lucros a.a. do MSCI
Chile e Peru tendem a ser os mais atrasados
É esperado que os lucros comecem a melhorar a partir daqui
Expectativas de lucros a.a. do MSCI
Em suma, embora o cenário econômico na maior parte da América Latina tenha superado as expectativas, alguns setores passaram por dificuldades em 2023. Dito isso, conforme o cenário de aterrissagem suave se concretiza e os bancos centrais da região começam a atenuar as condições financeiras, prevemos uma recuperação dos lucros – juntamente com o índice mais amplo. Conforme destacado anteriormente, nosso interesse se volta para o México e Brasil, pois entendemos que o cenário envolve mais do que elementos externos, como o aumento do consumo interno e a tendência de nearshoring. Além disso, o MSCI Brasil e o MSCI México estão sendo negociados com desconto em relação às suas médias de longo prazo – o que constitui uma história atrativa, sobretudo quando combinada com uma jogada mais defensiva, como o MSCI Índia.
Uma abordagem interessante: Crescimento e renda em mercados emergentes (EMGI): busca proporcionar retornos do índice MSCI EM com um perfil de risco reduzido, combinando ações e renda fixa em uma carteira multiativos. No momento, suas alocações fora do índice de referência estão bastante alinhadas com nossa visão.