Economia e mercados

Como anda a América Latina em 2024? Apesar da volatilidade, segue em posição sólida

Nas nossas Perspectivas do meio do ano de 2024: Diante de uma economia forte em um mundo frágil, incentivamos os investidores a pensarem em maneiras de melhor proteger sua situação financeira dos riscos decorrentes de questões geopolíticas, enquanto aproveitam as oportunidades que podem surgir. Esse conceito é válido globalmente, e a América Latina não é uma exceção. As maiores regiões da América Latina, assim como muitos outros países de mercados desenvolvidos, demonstraram um sólido crescimento econômico e impulso. No entanto, vários eventos idiossincráticos têm afetado negativamente a percepção em torno dos ativos da América Latina e aumentado o prêmio de risco – limitando consequentemente os ciclos de flexibilização dos bancos centrais. Depois da última atualização que fizemos, apresentamos nossas mais recentes reflexões sobre a região.

1. No cenário macroeconômico

  • Como está o crescimento? O forte impulso continua sendo a norma, embora tenha havido alguns obstáculos desde nossa última atualização. O México é o mais recente a enfrentar desafios econômicos após uma queda inesperada na produção de serviços, apesar de o consumo privado e a manufatura ainda estarem robustos. Nossos economistas do IB revisaram o crescimento do PIB a.a. de 2024 de 2,1% para 1,8%. As expectativas de crescimento do Brasil para 2024 permanecem em 2,2% a.a., com consumidores resilientes liderando o cenário. Dito isso, segundo a previsão dos nossos economistas, é possível que as inundações no estado mais ao sul do Brasil afetem o crescimento da atividade econômica em maio. As expectativas nos países andinos têm se mostrado bastante estáveis, com Chile e Peru se beneficiando da sua condição como principais produtores de commodities, enquanto o desempenho mais forte da atividade na Colômbia sugere que a lacuna de produção se mover ligeiramente para o lado positivo.
  •  Qual é a nossa posição em relação à política monetária? A inflação tem se mantido amplamente em linha com as expectativas, mas os bancos centrais reconheceram os riscos à frente, moderando seus ciclos de flexibilização.

    No Brasil, a inflação dos serviços tem sido mais persistente do que o esperado, impulsionada por um mercado de trabalho apertado e pelo aumento dos preços de commodities alimentares deste ano, e pelo choque de oferta no Rio Grande do Sul neste ano, o que eleva as expectativas de inflação. O banco central manteve as taxas inalteradas por unanimidade (em 10,5%) e o conselho pediu cautela diante das expectativas de inflação crescentes do BCB e do crescimento econômico resiliente. Na mesma linha, espera-se que o Banxico do México mantenha as taxas de juros inalteradas (em 11,0%). Aqui, embora a inflação tenha apresentado notícias encorajadoras nos últimos meses, eventos atuais e riscos têm causado choques “transitórios”, esperados para determinar as próximas ações, já que a recente volatilidade cambial poderia resultar em impactos consideráveis na inflação, sobretudo na inflação de bens essenciais.

    Nos países andinos, o Peru também interrompeu seu ciclo de flexibilização monetária – atualmente em 5,75%, já que a inflação deve permanecer dentro da faixa visada do banco central. Por outro lado, o Banco Central do Chile continuou com seu ciclo de flexibilização monetária (embora em um ritmo mais lento) e reduziu as taxas em 25 pontos base para 5,75%. No entanto, reconheceu que a inflação está prestes a acelerar novamente à medida que os preços da eletricidade se normalizam e o país continua a se beneficiar da sua condição como um dos principais produtores de cobre e lítio. De fato, o conselho do Banco Central do Chile ajustou as expectativas de inflação referentes a dezembro de 2024 e dezembro de 2025 para 4,2% e 3,6% a.a., respectivamente. O processo de desinflação da Colômbia continua em andamento, o que sugere que o BanRep manterá o ritmo de redução de 50 pontos base em breve, com a taxa de política monetária se aproximando de 8,5% até o final do ano. 
  • E quanto à política fiscal? Em termos gerais, estamos abaixo das expectativas. No Brasil, o quadro fiscal continuou sendo uma fonte de turbulência. As pressões sobre as despesas recorrentes, a reduzida margem para aumentar as receitas e o fato de o presidente Lula continuar a ser destaque nas manchetes enquanto rejeita a proposta de corte de gastos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, geram desconfianças sobre a capacidade que o governo tem de cumprir as metas fiscais. Em consonância, recentemente o governo da Colômbia confirmou o grave desvio das receitas fiscais e ajustou seu déficit fiscal para -5,6% do PIB em 2024, além de reduzir as projeções de receita para 2025. O Peru enfrenta novas avaliações de crédito devido às ameaças decorrentes do aumento das despesas do congresso, isenções fiscais e desafios fiscais, incluindo a situação da Petro-Perú. Enquanto isso, no México, é esperado que o déficit fiscal atinja cerca de 5% em 2024, impulsionado pelos gastos públicos em um ano eleitoral.

2. Na política 

  • Eleições no México: Conforme mencionamos nas nossas reflexões sobre as eleições do México, Claudia Sheinbaum, do Morena, venceu as eleições do país. Embora a vitória de Sheinbaum tenha sido bem recebida pelos mercados, o mesmo não aconteceu com a possibilidade de sua coalizão alcançar uma maioria absoluta no Congresso Federal, e os mercados reagiram mal (mais informações serão apresentadas em breve). Embora não haja implicações imediatas, existem receios de que o partido do governo consiga alterar o arcabouço institucional do país, o que poderia levar à potencial erosão dos freios e contrapesos. Atualmente, o Soberano possui um balanço patrimonial muito forte, com uma dívida em relação ao PIB de cerca de 50% (consolidada com a Pemex), mais de US$ 200 bilhões em reservas internacionais e um saldo da conta corrente equilibrado a superavitário. Desde a vitória do Morena, o presidente Andrés Manuel López Obrador tem sido bastante vocal sobre suas intenções de implementar reformas constitucionais importantes, principalmente nas áreas judicial e eleitoral.
  •  Inundações no Brasil: No dia 7 de maio, inundações devastadoras atingiram o Rio Grande do Sul, estado do sul do Brasil, resultando em pelo menos 90 mortes, 131 pessoas desaparecidas e 155.000 pessoas desabrigadas. Os especialistas em clima atribuíram as chuvas extremas à combinação de uma onda de calor causada pelo fenômeno El Niño deste ano. Do ponto de vista econômico, esperamos que as inundações no sul impactem a inflação no curto e médio prazo. Segundo as previsões de nossos economistas, os danos econômicos provavelmente terão um impacto nos preços de cerca de 15 pontos base no relatório do índice de preços ao consumidor (IPC) de maio. No médio prazo, o impacto pode ser mais persistente devido à perda de importantes safras como soja, arroz, milho e produção de carne. Além do impacto no cenário da inflação, serão necessários mais recursos para ajudar tanto indivíduos quanto empresas. Até agora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo irá suspender temporariamente os pagamentos de impostos federais e agilizar o acesso a benefícios sociais e recursos. Considerando todo o cenário, nossos economistas estão estimando um aumento de R$ 30 bilhões (0,3% do PIB) em despesas primárias do governo federal este ano, elevando nossa previsão de déficit para 0,8% do PIB (em comparação com a meta de um orçamento equilibrado).
  • Nova reforma da previdência na Colômbia: A partir de 1.º de julho de 2025, a Colômbia adotará um novo sistema de pensões proposto pelo governo do presidente Gustavo Petro. Esta reforma introduz um modelo de três pilares que visa expandir a cobertura previdenciária e garantir acesso universal, mesmo para aqueles que não atendem aos requisitos tradicionais. O novo sistema elimina a distinção público-privada, substituindo-a por três pilares: solidário, semicontributivo e contributivo. O pilar solidário apoia homens com mais de 65 anos e mulheres com mais de 60 anos que não têm pensão. No geral, devido ao escopo mais amplo do novo sistema, muitos acreditam que essa condição não será sustentável ao longo do tempo, pois implica em maiores gastos do governo, o que poderia eventualmente levar a aumentos de impostos, aumento da idade de aposentadoria ou redução dos pagamentoosde pensão.

3. Nos mercados

  • FX e ações: Desta vez, a conversa não foi impulsionada por forças globais, mas sim por eventos idiossincráticos. No Brasil, as expectativas de crescimento foram reafirmadas, mas os mercados foram influenciados pela última mudança na meta fiscal para 2025 e por questões em torno do arcabouço fiscal, o que criou muita volatilidade – exacerbada pelas recentes inundações no sul do país. Desde 7 de maio, quando ocorreram as devastadoras inundações, o BRL depreciou cerca de 8% e o mercado de ações caiu cerca de 14%, agora negociando a 7,3 vezes em comparação com uma média histórica de longo prazo de 12,5 vezes.

O peso teve uma desvalorização de cerca de 7%... ... enquanto os mercados de ações caíram cerca de 12%

Moeda MXN, acumulado de 2024 Índice MSCI México, acumulado de 2024

Este gráfico mostra o MXN e o MSCI México no acumulado do ano.
Fonte: Bloomberg Finance L.P. Dados de 25 de junho de 2024.

O desempenho passado não é garantia de resultados futuros. Não é possível investir diretamente num índice

No México, os mercados reagiram de forma bastante negativa às eleições. Na nossa opinião, a movimentação no câmbio e nas ações parece exagerada – o MXN teve uma depreciação de cerca de 7% e as ações caíram cerca de 12% desde as eleições. Dito isso, enquanto esperamos ver algum grau de normalização adiante, também acreditamos que a volatilidade permanecerá elevada à medida que as campanhas eleitorais nos EUA se intensificarem.

O real teve uma desvalorização de cerca de 7%....... enquanto as ações brasileiras caíram cerca de 13%

Moeda BRL, acumulado de 2024 Índice MSCI Brasil, acumulado de 2024

Este gráfico mostra o BRL e MSCI Brasil no acumulado do ano.
Fonte: Bloomberg Finance L.P. Dados de 25 de junho de 2024.

Até o momento, o Peru tem liderado o desempenho entre os países da região andina (e também em comparação com Brasil e México), impulsionado sobretudo pelos ventos favoráveis das commodities e pelo considerável progresso no combate à inflação, apesar dos recentes desafios fiscais. Dito isso, desde maio, as ações caíram cerca de 3% enquanto a moeda depreciou cerca de 2%. De maneira semelhante, o peso colombiano depreciou cerca de 5% enquanto as ações caíram 3%, ao passo em que o peso chileno permaneceu estável, alinhado às ações. 

4. Com base nas nossas interações mais recentes, o que nossos clientes estão dizendo?

  • No Brasil, embora o real brasileiro tenha depreciado significativamente no último mês e meio, e os brasileiros estejam bastante pessimistas quanto às perspectivas do país, já que o quadro fiscal parece prestes a se deteriorar, os locais também estão relutantes em diversificar para longe do BRL e dos seus CDIs, já que as taxas reais continuam entre as mais altas do mundo. Confira nosso último artigo sobre a importância da diversificação
  • Com relação ao México, os clientes estão bastante pessimistas em relação ao longo prazo, pois enxergam a deterioração institucional como uma possibilidade real no futuro. Dito isso, os clientes também entendem os fundamentos sólidos do país – afinal, é esperado que a economia cresça 1,8% a.a. até o final de 2024 (apesar da recente diminuição na atividade econômica). Embora o peso mexicano possa continuar a se deteriorar no futuro (e a maioria dos clientes acredita que o valor intrínseco do MXN deveria estar mais próximo de 20), a economia continua crescendo a um ritmo robusto, com o crescimento real dos salários apoiando o consumo doméstico, remessas fortes e fluxos de nearshoring eventualmente como fortes ventos favoráveis – os quais esperamos que permaneçam como o cenário habitual nos próximos anos. Um ponto importante a destacar é que o México também possui algumas das taxas reais mais altas do mundo.
  • Com relação ao Chile, embora tenha havido um aumento na atividade econômica impulsionada por setores cíclicos – principalmente commodities, os clientes permanecem céticos diante dos desafios fiscais e das taxas restritivas que têm desacelerado a economia.

No geral, vários eventos idiossincráticos têm dominado recentemente, levando a uma maior volatilidade, mas continuamos a acreditar que a região como um todo está em uma posição sólida. O prêmio de risco certamente aumentou devido às idiossincrasias de cada região e à incerteza decorrente do panorama global. Ainda assim, os consumidores resilientes têm sustentado o cenário econômico até agora e é esperado que as tendências cíclicas continuem à medida que os bancos centrais prosseguem com seus ciclos de flexibilização, embora as taxas devam permanecer elevadas por mais tempo.

Os riscos geopolíticos são uma realidade global, e a América Latina não é exceção.

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Informação importante

Definição de índice

O índice S&P 500 é um índice de bolsa das 500 maiores empresas cotadas em bolsa nos Estados Unidos, frequentemente utilizado para medir a saúde geral da economia.

A MSCI América Latina é um índice de mercado de ações de títulos de grande e média capitalização em 13 mercados na América Latina.

O MSCI Brazil Index tem por objetivo medir o desempenho dos segmentos de grande e média capitalização do mercado brasileiro.

O MSCI Mexico Index foi concebido para medir o desempenho dos segmentos de grande e média capitalização do mercado mexicano.

Todos esses índices mencionados acima são considerados índice ponderado de capitalização de mercado, o que significa que as empresas com as maiores capitalizações de mercado têm o maior impacto no desempenho do índice.

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