Estratégia de investimento
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A América Latina está em uma encruzilhada, enfrentando desafios internos significativos e mudanças globais à frente. A recente posse do presidente Trump introduziu novas dinâmicas que podem impactar o comércio, a política monetária e as estratégias fiscais da região. A incerteza permanece alta, enquanto a nova administração dos EUA usa a ameaça de tarifas como um meio de negociar interesses americanos não relacionados ao comércio. As discussões sobre possíveis mudanças de políticas continuam, com as tarifas se tornando uma fonte de receita atraente em meio a déficits crescentes.
No último fim de semana, o presidente Trump anunciou uma tarifa de 25% sobre todas as exportações mexicanas e canadenses para os EUA, exceto as exportações de energia do Canadá, que seriam taxadas em apenas 10%. Após a notícia, o peso mexicano (MXN) caiu mais de 4% no dia seguinte ao anúncio de que as tarifas para o México seriam adiadas por um mês enquanto evoluem as conversas sobre estratégias de segurança na fronteira sul dos EUA. Por outro lado, o dólar canadense (CAD) experimentou um salto na abertura do mercado na segunda-feira e se recuperou ligeiramente desde então. A situação continua incerta. A única certeza é que os mercados incorporarão um prêmio de risco tarifário muito mais alto no futuro. O presidente Trump mostrou interesse em revisar os termos do USMCA antes do previsto, originalmente programado para julho de 2026, o que poderia ocorrer já no primeiro trimestre de 2025. Dadas as ações recentes, essa revisão do USMCA poderia se tornar uma renegociação completa de todo o tratado, prolongando a incerteza no investimento e tendo implicações mais amplas para a economia do México. O foco da administração do presidente Trump na imigração e no combate aos cartéis de drogas, incluindo a controversa designação dos cartéis como Organizações Terroristas Estrangeiras (Foreign Terrorist Organizations, FTOs na sigla em inglês), adiciona complexidade à agenda comercial da América do Norte.
A ameaça de tarifas se estende além do bloco comercial da América do Norte. O presidente colombiano, Gustavo Petro, inicialmente negou a entrada de aviões militares americanos que transportavam migrantes deportados, ao que o presidente Donald Trump respondeu com uma ameaça de tarifas de 25% sobre as importações americanas da Colômbia (e a possibilidade de aumentá-las para 50% uma semana depois). O presidente Petro respondeu com uma proposta equivalente. A crise foi resolvida da noite para o dia quando a Colômbia confirmou que admitiria a entrada dos indivíduos deportados, levando os EUA a pausar a ameaça comercial. Este incidente foi um primeiro exemplo de como tarifas e guerras comerciais podem ser usadas para avançar interesses não comerciais, o que neste caso acabou afetando a confiança nos ativos colombianos e deixou a porta aberta para futuros confrontos. Apesar de a crise ter sido evitada, o peso colombiano (COP) enfraqueceu 2% quando os mercados abriram na semana seguinte.
O risco de tarifas sobre o peso colombiano se juntou às tendências observadas nos mercados de câmbio globais, com o fortalecimento imparável do dólar americano.
Além das ameaças comerciais e tarifárias, esta semana vamos explorar neste artigo os cenários econômicos, desenvolvimentos políticos e movimentos de mercado no México, Brasil, Chile, Peru e Colômbia.
Visão Geral Macro
Alinhado com nossas expectativas de uma desaceleração generalizada no crescimento do PIB este ano, o impulso na América Latina está diminuindo. Nossa visão cautelosa se baseia em riscos exógenos, mas as fontes de crescimento internas também estão se normalizando após dois anos de atividade incomumente forte. Essa tendência se mantém para a maioria das economias da região, exceto Peru e Argentina, onde o impulso continua forte em grande parte graças ao setor de mineração.
A economia do Brasil demonstra sinais de moderação após um sólido 2024. A inflação continua no centro das atenções, especialmente após o dado de janeiro, que registrou um IPC maior que nos meses anteriores. Devido à essa trajetória e a inflação relativamente estável do ano passado, ainda esperamos uma taxa de IPC de 5,5% para o final do ano para o país.
As perspectivas de crescimento do México foram afetadas pelas possíveis tensões comerciais com os EUA. O proxy mensal do PIB para novembro mostrou um modesto aumento de 0,4%, mas a ameaça iminente de tarifas poderia prejudicar as perspectivas de crescimento — com uma previsão de 1,3% para 2025. Embora a inflação subjacente em queda possa fomentar uma política monetária mais expansiva, as fraquezas cíclicas do turismo e o aumento dos salários aumentam a pressão para que o Banxico se mantenha cauteloso.
A economia do Chile continua se expandindo, embora em um ritmo mais lento. Projeta-se um crescimento anual do PIB de 2,0% para 2025, apoiado por uma forte demanda interna e um setor de mineração resiliente. No entanto, a postura cautelosa do banco central sobre a política monetária reflete as incertezas econômicas subjacentes.
O impulso de crescimento do Peru continua sólido, com um aumento do PIB de 3,1% em 2024. Espera-se que o setor de mineração continue sendo um motor chave, com a economia crescendo 2,7% em 2025, apesar dos desafios globais.
A Colômbia enfrenta um ambiente de crescimento complexo, com um crescimento do PIB projetado de 2,5% para 2025. Os dados recentes de atividade indicam uma desaceleração, mas o foco do governo em reformas fiscais pode impulsionar as perspectivas econômicas.
Os primeiros a flexibilizar a política monetária podem agora enfrentar um retrocesso inflacionário. Isso é evidente no Brasil, onde se espera que o Banco Central continue aumentando as taxas enquanto a inflação permanecer acima da meta e as expectativas de inflação se mantiverem desancoradas. O Chile mantém um enfoque cauteloso enquanto o impulso se acelera diante de uma inflação teimosamente acima da meta. Por sua vez, México, Colômbia e Peru continuam cortando taxas para estimular o crescimento econômico.
No Brasil, o banco central mantém sua postura agressiva, com aumentos de taxas esperados de 100 pontos-base nas próximas duas reuniões, seguidos de 50 pontos-base em cada reunião subsequente. Nossos economistas do Banco de Investimento projetam que a taxa SELIC alcance 15,25% para meados de 2025. Esta seria a taxa de política mais alta em quase 20 anos, considerada apropriadamente restritiva diante das pressões inflacionárias que estamos vendo. Devido ao alto nível de incertezas geopolíticas, será crucial monitorar a orientação futura e o sentimento do BCB nas próximas reuniões.
As perspectivas de inflação do México melhoraram com o IPC de janeiro chegando mais baixo do que o esperado em 3,7% interanual, impulsionado pela diminuição dos preços dos alimentos crus e processados. Embora se espere que o Banxico continue seu ciclo de flexibilização, é provável que a cautela prevaleça nos próximos meses. Calcula-se que a taxa de política alcance 8,5% para o final do ano à medida que diminuem as pressões inflacionárias.
É provável que o banco central do Chile mantenha uma abordagem cautelosa, com a expectativa de que a taxa de política permaneça estável no curto prazo. A inflação permanece acima da meta, mas o banco central mantém seus esforços em apoiar o crescimento.
O BanRep da Colômbia manteve a taxa de referência sem alterações em janeiro, apesar de menores pressões inflacionárias antecipando um ambiente volátil diante dos riscos tarifários. A previsão é que a taxa de política alcance 7,25% até o final do ano, alinhando-se com a meta de inflação do banco central.
O banco central do Peru mantém seu ciclo de flexibilização, com previsão de que a taxa de política alcance 4,25% até meados de 2025. A inflação se mantém sob controle, o que está permitindo uma maior flexibilização monetária.
Poucos dados novos foram publicados sobre o panorama fiscal. No entanto, nossas opiniões sugerem uma perspectiva desafiadora para os déficits fiscais em toda a região à medida que o crescimento desacelera em meio à incerteza comercial. O principal movimento pode vir do México, cujo déficit se espera diminuir este ano graças a uma base de comparação alta que resultou do importante programa de gastos do ano eleitoral de 2024.
O México está atualmente focado em reduzir o déficit através de um orçamento ambicioso para 2025, que, se bem-sucedido, ajudaria a preservar a sustentabilidade fiscal e a estabilidade no país. Nossos economistas do banco de investimento esperam um déficit de 1,2% do PIB para 2025 para o país.
O panorama fiscal do Brasil continua desafiador, com um déficit projetado de 2,8% do PIB para 2025. O governo está focado em manter a estabilidade fiscal, mas serão necessárias reformas estruturais para abordar a rigidez orçamentária.
A força fiscal do Chile é apoiada por uma gestão prudente, com um déficit projetado de 3,3% do PIB para 2025. O compromisso do governo com a disciplina fiscal fornece uma base sólida para o crescimento.
A perspectiva fiscal do Peru continua estável, com um déficit projetado de 2,4% do PIB para 2025. O foco do governo na disciplina fiscal e no investimento em infraestrutura apoia a resiliência econômica.
As reformas fiscais da Colômbia estão destinadas a reduzir o déficit, projetado em 3,6% do PIB para 2025. O foco do governo na responsabilidade fiscal é chave para sustentar o crescimento.
Na política:
O comércio será um foco central em 2025. A recente inauguração do presidente Donald Trump nos Estados Unidos introduziu novas incertezas sobre as políticas comerciais e as parcerias. O México está no centro da agenda comercial, com o presidente Trump ameaçando com uma tarifa de 25% sobre as exportações mexicanas. A designação dos cartéis como Organizações Terroristas Estrangeiras (Foreign Terrorist Organizations, FTOs na sigla em inglês) por parte dos EUA pode ter repercussões econômicas significativas para o México. Na Colômbia, as recentes tensões com os EUA sobre as políticas de deportação foram resolvidas, mas destacam o delicado equilíbrio das relações internacionais.
Com relação à Argentina, o presidente Milei sinalizou sua disposição em Davos de abandonar o Mercosul em busca de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Considerando que as tentativas anteriores de estabelecer acordos comerciais entre Mercosul e EUA não tiveram muito sucesso (como visto em 2005 com o Tratado de Livre Comércio das Américas), a Argentina busca acelerar sua recuperação econômica, mesmo que isso exija medidas mais drásticas.
Nos mercados:
Apesar dos anúncios e especulações recentes, os mercados da América Latina demonstraram resiliência. No geral, as moedas e os mercados de ações se fortaleceram neste mês, mesmo com os grandes movimentos intradiários provocados pelo fluxo de notícias.
No Brasil, o recente estresse do mercado foi amenizado, em parte devido às tensões comerciais entre os EUA e a China — o que abre caminho para um crescimento econômico mais forte e melhores perspectivas para o balanço comercial. O Brasil se apresenta como uma alternativa para fornecer bens que a China atualmente importa dos EUA. Apesar das significativas saídas de capital impulsionadas por carteiras em dezembro, a qualidade das saídas foi menos preocupante do que se temia inicialmente. Como resultado, o real se apreciou 4,5% nos últimos dias, à luz das notícias econômicas e das altas expectativas de aumentos de taxas.
O peso colombiano, apesar das notícias e da polêmica sobre os deportados, encerrou o mês de janeiro com uma queda de apenas 0,51%. O peso mexicano caiu 2,89%, mas se recuperou em mais de 1% em um único dia, pois a posse do presidente Trump gerou preocupações sobre possíveis mudanças nas políticas durante os próximos meses.
Espera-se que os lucros se recuperem de forma ampla na América Latina, impulsionando o ímpeto observado no início do ano. Os mercados que tiveram os ganhos mais substanciais também eram os mais baratos em termos de relação preço/lucro (P/E na sigla em inglês), com Colômbia e Brasil se destacando como os maiores beneficiados. Apesar da incerteza política, a América Latina se beneficia de um posicionamento técnico favorável. Enquanto enfrentamos a incerteza nos investimentos, mantemos uma postura cautelosa este ano e preferimos focar onde a visibilidade é mais clara para construir resiliência na carteira. Nossos mercados preferidos continuam sendo os EUA e o Japão, com alocações seletivas e táticas apenas para algumas partes da Europa e mercados emergentes.
Em resumo
Como já analisamos em nossa perspectiva regional para 2025, os países da América Latina enfrentam o desafio de lidar com uma complexa interação entre políticas internas e desenvolvimentos globais. As recentes mudanças na administração dos EUA trouxeram incertezas, especialmente nas estratégias comerciais e fiscais, colocando em dúvida as perspectivas de crescimento para este ano. À medida que avançamos, o foco será manter a estabilidade econômica e promover o crescimento em meio às incertezas globais.
À medida que novembro conclui, a América Latina se encontra em uma encruzilhada, equilibrando desafios internos com mudanças globais. As recentes eleições nos EUA introduziram novas dinâmicas, com possíveis efeitos no comércio, na política monetária e nas estratégias fiscais, o que se espera que traga um dólar americano mais forte, taxas de juros mais altas nos EUA e possíveis interrupções comerciais. Este mês, passamos do crescimento constante do Peru para as recalibrações fiscais do Brasil, tudo enquanto navegamos pelas complexidades de um cenário global em transformação ao nos aproximarmos do final do ano. Aqui está nosso resumo e análise dos eventos-chave para a região. Vamos nos aprofundar.
Macroeconomia
A economia do Brasil continua desafiando as expectativas, com um crescimento de 0,8% mês a mês na atividade econômica de setembro, impulsionado por um setor varejista animado e serviços robustos. Isso posiciona o país para um forte desempenho no terceiro trimestre, com um crescimento do PIB projetado de 3,5% para 2024 e de 2,2% para 2025. O índice de atividade econômica e as vendas no varejo mostraram resiliência, indicando uma forte demanda do consumidor, apesar dos desafios fiscais.
A economia do México também se mostrou robusta, com revisões do PIB do terceiro trimestre que indicam uma recuperação. Apesar das incertezas políticas, a demanda interna continua forte, apoiando uma previsão de crescimento de 1,6% para 2024 e de 1,2% para 2025. No entanto, os dados comerciais recentes mostraram uma diminuição nas exportações manufatureiras e nas importações de capital, sugerindo possíveis ventos contrários para o investimento.
A economia do Chile se expandiu 2,3% no terceiro trimestre, impulsionada pela demanda interna e pelo investimento fixo. Embora se espere que o crescimento desacelere no quarto trimestre, a previsão anual do PIB se mantém em 2,4% para 2024 e 2,0% para 2025. O setor minerador, particularmente o cobre, continua sendo um pilar fundamental da economia chilena, embora o mercado de trabalho tenha mostrado sinais de tensão com um ligeiro aumento no desemprego. Além disso, a Moody's reafirmou a classificação A2 do Chile, sublinhando a força fiscal do país e suas políticas macroeconômicas prudentes.
A economia do Peru continua sua expansão, com um crescimento de 3,16% interanual em setembro, marcando seis meses consecutivos de crescimento. Nossos economistas esperam que o PIB sequencial retome sua expansão no quarto trimestre, mantendo uma previsão de crescimento anual de 3,0% para 2024 e de 2,7% para 2025. O setor minerador, especialmente o ouro e o cobre, continua atraindo investimentos.
Os dados do PIB do terceiro trimestre da Colômbia mostraram resultados mistos, com a agricultura e os serviços impulsionando o crescimento. Apesar de um ligeiro desempenho inferior, a demanda interna continua forte, apoiando uma previsão de crescimento de 2,0% para 2024 e de 2,5% para 2025. No entanto, as restrições fiscais e a necessidade de um investimento privado mais forte continuam sendo preocupantes, como destacam as avaliações recentes do FMI.
Por outro lado, a classificação de crédito da Argentina foi melhorada de CC para CCC pela Fitch, refletindo uma maior confiança econômica. Isso ocorre após a repatriação de mais de US$ 20 bilhões em capital e a redução dos diferenciais de renda fixa. Embora progressos estejam sendo feitos, persistem desafios como as baixas reservas líquidas e a incerteza no financiamento externo.
No Brasil, a postura agressiva do banco central persiste, com o COPOM aumentando recentemente as taxas de juros em 50 pontos base, para 11,25%, em resposta às crescentes pressões inflacionárias - o IPC de outubro situou-se em 4,8%, impulsionado pelo aumento dos preços dos alimentos e por um mercado de trabalho apertado. Dito isso, após o anúncio do pacote fiscal pelo Ministro da Fazenda (mais detalhes abaixo), as preocupações sobre a credibilidade da política econômica aumentaram. Nossos economistas estimam que o banco central aumente ainda mais as taxas de juros: 100 pontos base na próxima reunião, seguido de um aumento similar de 100 pontos base em fevereiro e dois aumentos adicionais de 50 pontos base, alcançando efetivamente uma taxa terminal de 14,25% (retornando aos máximos dos últimos 15 anos). Essa abordagem agressiva de política monetária é considerada necessária para contrabalançar as pressões inflacionárias exacerbadas pelos riscos fiscais e pela possibilidade de um maior deslizamento fiscal. Enquanto o governo se concentra em manter a inflação sob controle ao mesmo tempo em que apoia o crescimento, a recente desvalorização da moeda e o aumento das expectativas de inflação exigem uma ação decisiva para evitar que a inflação ultrapasse os intervalos-alvo nos próximos anos.
Por outro lado, a perspectiva de inflação do México melhorou, já que os preços subjacentes surpreenderam para baixo, com a inflação de outubro em 4,5%. O recente corte de taxas do Banxico para 10,25% reflete um enfoque cauteloso em meio a riscos de crescimento para baixo. Mais cortes são antecipados, com a taxa política potencialmente atingindo 9% em agosto de 2025.
O IPC de outubro do Chile aumentou 1,1%, impulsionado pelos custos dos serviços públicos, levando a inflação anual a 4,7%. Dito isso, espera-se que o banco central continue seu caminho de flexibilização cautelosa, com um corte de taxas de 25 pontos base antecipado para dezembro.
A inflação da Colômbia também surpreendeu para baixo, registrando -0,13% mês a mês em outubro, com uma inflação anual de 5,4%. Apesar disso, a inflação de serviços básicos continua alta, mantendo a inflação subjacente acima da meta. Espera-se que o BanRep corte as taxas em 50 pontos base em dezembro, terminando o ano em 9,25%.
A inflação de outubro do Peru foi registrada em 2,0%, alinhada com a meta do BCRP. Aqui, o banco central cortou a taxa política em 25 pontos base para 5,0%, alinhando-se com expectativas de inflação estáveis.
A revisão fiscal do Brasil confirmou restrições de gastos mais rigorosas, reforçando as expectativas de um déficit moderado em 2024. O déficit primário de setembro foi de BRL 7,3 bilhões, alinhando-se com a meta de 2024. Dito isso, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou o plano do governo para introduzir novas medidas fiscais destinadas a economizar BRL 70 bilhões entre 2025 e 2026. Essas propostas incluem ajustes na regra do salário mínimo, restrições na elegibilidade para abono salarial e reformas no sistema de pensões militares, entre outras. Em relação às receitas, o governo planeja isentar do imposto de renda as pessoas que ganham até BRL 5.000 por mês, enquanto aumenta os impostos para aqueles que ganham mais de BRL 50.000. Apesar desses anúncios, são necessárias medidas estruturais para manter a estabilidade fiscal, já que a rigidez orçamentária continua sendo uma preocupação. O mercado permanece cético quanto à capacidade do governo de alcançar as economias projetadas, especialmente dadas as dificuldades para obter uma rápida aprovação do Congresso e o potencial de receitas reduzidas pelas reformas propostas ao imposto de renda. À medida que o Brasil navega por esse labirinto fiscal, o foco do governo em receitas não recorrentes e na execução orçamentária será fundamental para cumprir os objetivos fiscais e manter a estabilidade.
O panorama fiscal do México também é desafiador, com um déficit projetado de 4% do PIB para 2025. Assim, a recente mudança na perspectiva da Moody's para negativa foi impulsionada pela diminuição da acessibilidade da dívida e pelo aumento da rigidez fiscal. Apesar desses desafios, o México mantém seu status de grau de investimento, respaldado por uma economia diversificada e reservas internacionais substanciais.
A perspectiva fiscal do Peru continua estável, com a Fitch mantendo sua classificação BBB, destacando a gestão fiscal prudente do país. Esta estabilidade fornece uma base sólida para o crescimento e o investimento. O compromisso do país com a disciplina fiscal, mesmo em meio a incertezas globais, sublinha sua resiliência e previsão econômica.
De forma similar, a força fiscal do Chile foi reafirmada pela Moody's, sublinhando a capacidade do país para equilibrar o aumento do gasto social com a disciplina fiscal.
Como escrevemos em nosso "América Latina em Foco" há algumas semanas, as eleições nos EUA têm implicações significativas para a América Latina, particularmente o México, que enfrenta possíveis tensões comerciais e mudanças regulatórias. As transições políticas sincronizadas em ambos os países adicionam complexidade às perspectivas econômicas. A próxima revisão do T-MEC é um ponto crítico, com possíveis impactos nos fluxos comerciais e de investimento.
Na Colômbia, a reforma do SGP continua avançando no Congresso, o que pode aumentar o gasto fiscal a médio prazo.
Mercados:
Os mercados de ações na América Latina tiveram um mês misto. As ações da Argentina aumentaram, impulsionadas pelo sentimento positivo dos investidores e as reformas econômicas. Em contraste, Brasil e México enfrentaram quedas, refletindo incertezas fiscais e políticas.
Por outro lado, os movimentos das moedas foram mistos, com o Peso mexicano apreciando cerca de 1,5%, enquanto o Real brasileiro depreciou cerca de 2,4%.
No mercado de renda fixa, os diferenciais se estreitaram para Argentina, Brasil e México, indicando um melhor sentimento dos investidores.
Em geral, novembro tem sido um mês de recalibração para a América Latina, com a região navegando uma complexa interação de políticas internas e desenvolvimentos globais. As eleições nos EUA introduziram incerteza, particularmente em estratégias comerciais e fiscais, no entanto, a resiliência da região continua evidente. Os ajustes monetários e fiscais do Brasil apontam para estabilizar sua economia em meio a pressões inflacionárias, especialmente em risco pela depreciação da moeda. O México equilibra o crescimento com a responsabilidade fiscal, mesmo quando enfrenta possíveis tensões comerciais. A expansão econômica do Chile, respaldada por seu setor minerador, sublinha sua força fiscal, enquanto a perspectiva estável do Peru destaca sua previsão econômica. As reformas fiscais da Colômbia demonstram um compromisso com o crescimento equitativo. Um desafiador ano de 2025 se aproxima para a região, que, após desfrutar de anos de crescimento consistentemente acima do potencial, enfrentará dificuldades para manter o ritmo sem recorrer a desequilíbrios fiscais adicionais.
Outubro de 2024 foi um mês de recalibração e otimismo cauteloso para a América Latina. Enquanto os mercados globais digerem as implicações das mudanças nas políticas monetárias, a região se encontra em um momento crucial. A narrativa evoluiu de enfrentar pressões inflacionárias para navegar pelas complexidades da disciplina fiscal e da sustentabilidade do crescimento. Embora a inflação mostre sinais de moderação, especialmente no Chile e na Colômbia, o foco se deslocou para as manobras estratégicas dos bancos centrais enquanto equilibram os ciclos de flexibilização com a necessidade de manter a estabilidade da moeda.
Para muitos países latino-americanos, a inclinação para a flexibilização se mantém, apoiada por uma perspectiva mais moderada do Federal Reserve. Isso proporciona uma janela para que as autoridades monetárias ajustem as políticas sem desencadear movimentos adversos de câmbio ou reacender pressões inflacionárias. Por outro lado, o Brasil se destaca com seu crescimento robusto superando as expectativas, o que provocou outro ciclo de aumentos das taxas de juros, apesar dos desafios fiscais. Enquanto isso, a resiliência econômica do México é sustentada por uma forte demanda interna, embora as incertezas políticas sejam significativas.
Está claro que o crescimento em toda a região será desigual, e cada país traçará seu próprio curso através de um panorama de restrições fiscais e mudanças políticas. À medida que se aproximam as eleições nos Estados Unidos, os próximos meses testarão a capacidade da região de se adaptar e prosperar, com a política fiscal desempenhando um papel crucial na configuração do panorama econômico.
Aqui está nosso resumo dos eventos-chave para a região e nossas últimas reflexões.
Macroeconomia
O crescimento no Brasil continua surpreendendo para cima, com a atividade econômica crescendo 0,2% em agosto, em linha com as expectativas e sinalizando uma desaceleração no terceiro trimestre. O PMI industrial se recuperou em setembro, deixando nosso nowcaster ou previsão em tempo real do PIB do terceiro trimestre em 4,8%, muito acima da previsão de expansão do PIB de 2% trimestral de nossos economistas.
Da mesma forma, o PIB do Peru cresceu pelo quinto mês consecutivo, impulsionado pelo setor de mineração. O Banco Mundial revisou sua previsão de crescimento para 2024 para 3,1%, refletindo melhorias econômicas regionais. No entanto, as projeções de crescimento para 2025 foram ligeiramente reduzidas para 2,5%, destacando os possíveis desafios futuros.
Além disso, a economia da Colômbia cresceu 2,4% desde dezembro de 2023, e o FMI elevou sua previsão de crescimento do PIB para 2024 para 1,6%. Apesar disso, as restrições fiscais continuam sendo motivo de preocupação, e a Fitch Ratings enfatizou a necessidade de um investimento privado mais forte para impulsionar o crescimento.
No México, os dados de demanda interna de julho foram encorajadores, com o consumo privado e os gastos com investimento aumentando, o que apoia uma revisão da previsão de crescimento do PIB do terceiro trimestre para 4,1% interanual. No entanto, uma queda de 9% na produção do setor primário moderou as expectativas, com o crescimento geral mais próximo de 3% para o terceiro trimestre. A força do consumidor continua sendo um motor chave, mas as incertezas políticas, particularmente em torno das próximas eleições nos Estados Unidos e do pacote econômico de 2025, podem influenciar as dinâmicas de crescimento futuro.
Os indicadores de atividade do Chile foram robustos, com um aumento de 1,2% mensal na manufatura e um crescimento da mineração de +3,1% mensal. Além disso, as vendas no varejo se expandiram 0,8% mensalmente, sugerindo uma perspectiva positiva para o PIB do terceiro trimestre. No entanto, a taxa de desemprego aumentou para 8,9%, indicando certa fraqueza no mercado de trabalho que pode moderar as expectativas de crescimento. Dito isso, o FMI elevou a previsão de crescimento do PIB do Chile para 2024 para 2,5%, superando a média regional.
O Brasil tem sido o destaque nesse aspecto. As pressões inflacionárias têm aumentado, com a prévia do IPCA-15 indicando uma aceleração em bens e serviços básicos. Nossos economistas revisaram a expectativa para a taxa SELIC para prever dois aumentos de 50 pontos base nas próximas reuniões, atingindo 12% para fevereiro. Isso se deve a notícias fiscais decepcionantes, um desempenho da moeda deficiente e expectativas de inflação revisadas. A postura agressiva do Banco Central reflete preocupações sobre expectativas de inflação desancoradas e um mercado de trabalho ajustado.
No México, os dados de inflação revelaram que os preços dos serviços continuam elevados, complicando o caminho para a desinflação. A inflação geral aumentou ligeiramente para 4,7%, impulsionada por flutuações nos preços de alimentos crus, enquanto a inflação subjacente mostrou mais estabilidade, diminuindo marginalmente para 3,9% interanual. Aqui, as atas do Banxico insinuaram continuar com cortes de taxas, atingindo um objetivo de taxa de política de 10% para o final do ano de 2024.
O Banco Central do Chile cortou a taxa de juros em 25 pontos base para 5,25%, sinalizando um ritmo mais lento para futuros ajustes. A inflação diminuiu ligeiramente em setembro, e nossos economistas esperam mais cortes de taxas, apontando para uma taxa terminal em torno de 4,5% para o final do ano, à medida que as pressões inflacionárias continuam moderando.
Na mesma linha, a inflação da Colômbia caiu abaixo de 6% pela primeira vez em quase três anos, atingindo 5,81%, um desenvolvimento positivo para a estabilidade econômica. O banco central cortou a taxa de política em 50 pontos base para 10,25%, com uma maioria a favor de um ritmo de flexibilização de 75 pontos base na próxima reunião. Isso reflete um foco em apoiar o crescimento em meio à diminuição da inflação.
Além disso, o IPC de Lima no Peru registrou -0,24% mensal em setembro, com a inflação anual desacelerando para 1,8%. O Banco Central manteve sua taxa de política estável em 5,25%, optando por uma pausa após cortes recentes. Nossa equipe antecipa mais flexibilização se a inflação permanecer abaixo do objetivo, com uma taxa terminal de 4,0% para o segundo trimestre de 2025.
Os desafios fiscais do Brasil continuam no centro das atenções, com um déficit de 21,4 bilhões de BRL em agosto, em linha com as previsões. O compromisso do governo com a disciplina fiscal está sob escrutínio, com votações orçamentárias próximas sendo datas-chave a observar. As discussões recentes nas reuniões do FMI e na cúpula dos BRICS viram o presidente Lula defendendo trocas comerciais alternativas e impostos mais altos para os super-ricos, sinalizando possíveis mudanças nas prioridades fiscais. Enquanto isso, o ministro das finanças Fernando Haddad destacou a importância de fortalecer o arcabouço fiscal, embora o ceticismo persista devido à possível oposição. Nossos economistas enfatizam a necessidade de políticas fiscais e monetárias coordenadas para alcançar o objetivo de inflação com um menor custo para a atividade.
O presidente do Chile, Boric, anunciou um aumento de 2,7% nos gastos públicos para 2025, focando em segurança pública, pensões e crescimento econômico. Projeta-se que o déficit fiscal seja de 2,2% em 2024, com as receitas aumentando graças a preços mais altos do cobre. Cabe destacar que o FMI melhorou a perspectiva de crédito do Chile de negativa para estável, refletindo melhorias fiscais e instituições democráticas sólidas.
A Colômbia enfrentou desafios fiscais com um déficit primário de -0,9% do PIB na primeira metade de 2024. A arrecadação fiscal real foi fraca, diminuindo 15,7% interanual, o que exerce pressão sobre as contas fiscais. Em geral, o governo está sob pressão para gerir a execução do orçamento para cumprir com as regras fiscais. Nossos economistas destacam a necessidade de consolidação fiscal para apoiar a estabilidade econômica.
O déficit fiscal do Peru manteve-se estável em 4% do PIB, com aumentos nas receitas fiscais compensando os gastos mais elevados. No entanto, as perspectivas fiscais para o ano foram revistas para um déficit mais amplo de 3,2% do PIB, destacando os desafios em reduzir o déficit. Nossos economistas aconselham cautela, pois reduzir o déficit pode ser desafiador.
Política
O panorama político do México é marcado por uma reforma constitucional significativa aprovada pelo Senado, garantindo que os aumentos do salário mínimo superem a inflação. Este passo histórico visa proteger o poder de compra dos trabalhadores e apoiar a demanda interna, refletindo o compromisso do governo com a equidade social. No entanto, a reforma também suscitou preocupações sobre os possíveis impactos nos custos empresariais e na competitividade, adicionando uma camada de complexidade às perspectivas econômicas.
Na Colômbia, o debate sobre a reforma trabalhista avançou com a aprovação de 18 dos 80 artigos. Entre os mais destacados está a formalização do trabalho em plataformas digitais, um movimento que reflete a natureza evolutiva do trabalho na era digital. No entanto, a disposição controversa de maior indenização por demissões sem justa causa foi eliminada, destacando o delicado equilíbrio de negociações e compromissos no processo legislativo.
A Argentina está tomando medidas audaciosas para estabilizar sua economia, com o governo avançando na privatização da Aerolíneas Argentinas. Esta decisão gerou tensões com os sindicatos, levando a greves e protestos em andamento. A privatização faz parte de uma estratégia mais ampla para atrair investimento e fortalecer a estabilidade econômica, embora enfrente uma oposição significativa de grupos trabalhistas preocupados com a segurança no emprego e as condições de trabalho.
Mercados
As ações tiveram um desempenho misto, destacando-se a Argentina com um aumento de 19,7% no mês até a data. Este ganho notável é impulsionado pelo sentimento positivo dos investidores e pelas recentes reformas econômicas. Em contraste, outros mercados principais enfrentaram obstáculos, com o MSCI Brasil caindo 2,9%, o MSCI México diminuindo 2,7%, e o MSCI Colômbia e o MSCI Chile caindo 1,4% e 1,0%, respectivamente. O Peru rompeu a tendência com um aumento de 2,2%, refletindo a resiliência em seus fundamentos econômicos.
As moedas apreciaram de forma geral, com o real brasileiro e o peso chileno liderando a subida, apreciando 4,5% e 5,1% no mês até a data, respectivamente. O peso mexicano e o peso colombiano também se apreciaram, 1,7% e 2,9%, respectivamente. O sol peruano e o peso argentino tiveram apreciações mais modestas de 1,6% e 1,9%, respectivamente, enquanto os mercados reagiam tanto às condições econômicas internas quanto às tendências financeiras globais mais amplas.
Os spreads soberanos se reduziram em geral, indicando um melhor sentimento dos investidores. A Argentina viu um estreitamento significativo de 398 pontos base, refletindo o otimismo em torno das recentes medidas fiscais. Brasil e México também tiveram um estreitamento, com os diferenciais reduzindo em 17 e 11 pontos base, respectivamente. Chile e Peru viram os diferenciais estreitarem em 8 e 4 pontos base, enquanto os diferenciais da Colômbia se reduziram em 3 pontos base.
Em geral, outubro de 2024 viu os mercados passarem de preocupações inflacionárias para desafios fiscais. Os sinais encorajadores de moderação da inflação e ajustes estratégicos da política monetária proporcionaram algum alívio. Embora o panorama econômico geral continue misto na região, há sinais promissores de resiliência e recuperação em vários países. O Brasil continua superando as expectativas, e o Peru mostra uma forte recuperação cíclica. Enquanto México e Chile enfrentam desafios, seus setores industriais oferecem algum otimismo, e políticas monetárias mais flexíveis devem proporcionar um suporte para o crescimento. Os prêmios de risco indubitavelmente permanecem elevados, dada as idiossincrasias de cada região e a incerteza derivada das perspectivas globais, mas acreditamos que a região como um todo continua em uma base sólida. O próximo obstáculo serão as eleições nos Estados Unidos na próxima semana.
A América Latina tem passado por uma considerável volatilidade e recebido ampla cobertura da mídia nas últimas semanas. Desde a significativa queda dos preços do petróleo até novas reformas em larga escala sendo aprovadas no México, os mercados emergentes têm presenciado eventos que contribuíram para o aumento dos níveis de volatilidade das ações, conforme observado no recente pico do índice VXEEM. As políticas dos bancos centrais latino-americanos também têm se distanciado das dos Estados Unidos, como no Brasil, onde os aumentos das taxas de juros começaram a conter a inflação persistente, em vez de cortes para reagir à desaceleração do mercado de trabalho. Os principais desenvolvimentos e divulgações de dados também mostram os diferentes cenários econômicos que vários países da região estão enfrentando.
Vamos analisar o que está acontecendo na região.
Sobre a macroeconomia:
A economia do Brasil cresceu 5% no último semestre, impulsionada pela demanda interna, o que levou a uma revisão na previsão de crescimento do PIB de 2,9% para 3,2% ano a ano. No entanto, espera-se que o crescimento se modere nos próximos trimestres. A queda nos preços do petróleo pode resultar em menor inflação, alinhando-se com as previsões de flexibilização monetária no segundo semestre de 2025. Por outro lado, isso é algo que pode impactar negativamente as contas fiscais devido à redução das receitas provenientes de royalties, imposto de renda e dividendos da Petrobras.
No México, as vendas no varejo aumentaram em 0,7% mês a mês, superando a previsão consensual de 0,3%, com forte desempenho em bens duráveis, excluindo automóveis. O mais importante é que o proxy do PIB de julho aumentou 0,6% mês a mês, com correções ascendentes nos dois meses anteriores. Isso colocou o nível do PIB de julho em 3,9% anualizado acima da média do segundo trimestre, o que levou os analistas do IB a revisarem a previsão de crescimento do PIB do terceiro trimestre para 4,1% trimestre a trimestre. Consequentemente, a estimativa de crescimento para o ano de 2024 agora é de 1,5% ano a ano (acima dos 1,3% anteriores). O país parece estar em uma posição sólida sob a perspectiva de crescimento impulsionado internamente, embora a incerteza política também tenha exercido um importante papel no desempenho dos ativos.
O varejo da Colômbia tem mostrado sinais promissores de crescimento, com o aumento de 1,5% mês a mês em julho das vendas nesse setor, excluindo veículos e combustíveis. Essa informação está alinhada às expectativas de crescimento sequencial positivo no terceiro trimestre de 2024, com uma previsão de 2,0% trimestre a trimestre. O índice de atividade mensal também teve um desempenho melhor do que o esperado, subindo 2,5% mês a mês, recuperando-se de uma queda em junho. Isso sugere um setor consumidor resiliente com capacidade para sustentar um crescimento econômico mais amplo.
A atividade econômica do Peru também apresentou um bom desempenho em julho, com um aumento de 1,5% mês a mês, após ajustes para sazonalidade e efeitos de calendário. Os setores de manufatura e mineração foram os destaques, contribuindo de forma considerável para o crescimento mensal da atividade. Além disso, as exportações do Peru dispararam 31,9% em julho de 2024, impulsionadas pelo aumento das remessas de farinha de peixe, café, ouro e hidrocarbonetos. Esse crescimento das exportações é um indicador positivo para o balanço comercial do país e para a saúde econômica geral.
A economia do Chile demonstrou um sutil sinal de força em seu recente relatório de atividade, com algumas indicações de impulso para o próximo ano. O país também se beneficia dos preços atualmente mais baixos do petróleo, o que atua como um choque positivo nos termos de troca, reduzindo a inflação e impulsionando o crescimento. O índice de preços ao consumidor (IPC) de agosto não trouxe novidades, com inflação de 4,6% ano a ano. Até o final do ano, esperamos que a inflação fique próxima de 4,5% ano a ano, marcando uma pequena queda em relação aos níveis atuais.
No mesmo dia do primeiro corte do ciclo pela Reserva Federal (o Fed), o Banco Central do Brasil adotou uma postura mais rígida, iniciando um ciclo de restritividade com um aumento unânime de 25 pontos base (pb). A decisão reflete preocupações com o crescimento resiliente do PIB, surpresas inflacionárias e movimentos no câmbio. As projeções de inflação do Banco Central estavam no limite superior, indicando um risco considerável de um ciclo de restritividade mais rápido ou prolongado. Essa medida visa ancorar as expectativas de inflação e manter a estabilidade econômica, mas, ao fazer isso, também impõe desafios ao crescimento no curto prazo. Nossos economistas do IB esperam um ritmo de alta de 50 pb até que a taxa Selic atinja 11,5% no início de 2025. A declaração que acompanhou a decisão também destacou preocupações com a dinâmica da inflação, o crescimento resiliente do PIB, um mercado de trabalho pressionado e o aumento das expectativas de inflação, reafirmando muitos dos mesmos riscos que observamos na fase atual do ciclo.
Espera-se que o Banxico, o banco central do México, reduza as taxas em 25 pb, seguindo uma postura mais branda em junho e um corte subsequente em agosto. Apesar do ciclo de flexibilização, fatores idiossincráticos, como a volatilidade do peso mexicano (MXN) e considerações político-econômicas, provavelmente manterão o Banxico em um caminho gradualista. Os dados recentes de inflação mostraram que os preços gerais e os núcleos subiram conforme o esperado, com a inflação geral caindo para 4,7% ano a ano e a inflação subjacente mantendo-se estável, ligeiramente abaixo de 4%. Esse progresso na desinflação provavelmente levará o Banxico a cortar a taxa básica de juros em 25 pb. No entanto, recomenda-se cautela, pois a inflação nos serviços mostrou um aumento desconfortável, e a inflação de bens não alimentícios subiu ligeiramente. O impacto da recente depreciação cambial na inflação de bens não alimentícios parece contido, mas deve ser monitorado como uma fonte adicional de risco. Apesar da tendência geral de desinflação positiva, a reaceleração da inflação de serviços, particularmente serviços básicos, sugere que um corte de 50 pb semelhante ao do Fed pode estar em jogo.
Na região andina, espera-se que os bancos centrais continuem seus ciclos de flexibilização em velocidades variadas. O Banco Central do Chile deve reduzir a taxa básica de juros em 25 pb a cada reunião até o final de 2024, com o objetivo de atingir uma taxa básica de juros terminal de 4,5% no próximo ano. O Peru também deve continuar reduzindo as taxas em 25 pb por reunião, visando uma taxa terminal de 4,0% no primeiro trimestre de 2025. Por outro lado, é provável que o BanRep da Colômbia mantenha um ritmo de redução de 50 pb até o final deste mês, com potencial para acelerar para 75 pb nas duas últimas reuniões do ano, visando um nível terminal de 6,0%.
A política fiscal do Brasil continua sendo um fator crítico que influencia as decisões de política monetária. O governo anunciou recentemente um bloqueio de R$ 13,3 bilhões em despesas, revertendo um congelamento de R$ 3,8 bilhões anunciado em julho. Essa flexibilização líquida do esforço fiscal contrasta com a revisão de julho e levanta dúvidas sobre o compromisso do governo com a disciplina fiscal. A próxima revisão fiscal, marcada para 22 de novembro, e as votações do orçamento de 2025 em dezembro serão datas cruciais para observar novas medidas fiscais.
A administração da Argentina está comprometida com a disciplina fiscal como um alicerce para a estabilização econômica e o crescimento de longo prazo, evidenciado por um superávit primário acumulado no ano de 1,5% do PIB em agosto (em comparação com um déficit de 1,2% do PIB no mesmo período do ano passado), com o saldo geral de 0,3% do PIB. As diretrizes orçamentárias de 2025 reforçam esse compromisso, visando alcançar um resultado financeiro equilibrado ou superavitário a partir do exercício de 2025, determinando cortes proporcionais em despesas discricionárias caso as receitas fiquem aquém do esperado e utilizando receitas excedentes para cancelar dívidas, reduzir o dinheiro em circulação ou cortar impostos. O projeto de lei orçamentária, atualmente sob revisão no Congresso, deve ser aprovado sem grandes emendas, apoiado por incentivos alinhados e negociações em andamento com partidos da oposição.
Na política:
A Reforma Judicial do México foi totalmente aprovada e sancionada. A discussão atual gira em torno da inclusão da Guarda Nacional no Ministério da Defesa e, mais importante, da inclusão de estipêndios e subsídios sociais na Constituição, o que aumentaria os recursos previamente alocados no orçamento federal e poderia gerar déficits estruturalmente mais altos no futuro. Embora esse desenvolvimento introduza uma considerável incerteza política, as vantagens estruturais do México (como sua infraestrutura de transporte, amplos acordos comerciais e proximidade com os EUA) permanecem inalteradas. Esses fatores continuam posicionando o México como um beneficiário-chave do nearshoring, apoiando a criação de empregos e o consumo, embora com um custo mais elevado para as empresas. Dito isto, também há potencial para um aumento dos prêmios de risco e uma possível redução na classificação de crédito soberano, o que contribuiria para uma perspectiva mais pessimista para os ativos financeiros mexicanos (câmbio, taxas de juros etc.) no longo prazo.
Nos mercados:
Ações: A América Latina apresentou resultados variados este mês, com certa dispersão no desempenho do índice MSCI pela região. As ações mexicanas aumentaram em 4,9% devido a fortes expectativas de crescimento e correções ascendentes do proxy do PIB, além da possibilidade agora presente de um corte de 50 pb semelhante ao do Fed. Embora algumas preocupações sobre o cenário político e inflacionário permaneçam no médio e longo prazo, o mercado parece estar operando com impulso elevado rumo à decisão do Banxico na próxima semana. Permanecemos cautelosos.
As ações chilenas (+0,9%) e as peruanas (+5,5%) também subiram no acumulado do mês, com a recuperação da atividade observada em ambos os países. A contínua força da atividade, com base em nossas expectativas de sólido crescimento salarial e ganhos substanciais no comércio, pode impulsionar ainda mais o momento positivo. Por outro lado, o Brasil caiu -0,2% à medida que esperamos que a restritividade monetária adicional tenha efeitos adversos no crescimento da economia local. A Colômbia também apresentou desempenho inferior, com uma queda de -0,8%, embora a sólida recuperação da atividade em julho apoie a visão que os nossos economistas têm de ganhos acelerados de atividade no terceiro trimestre.
Em resumo:
De modo geral, a América Latina continua navegando por um cenário econômico complexo, com sinais mistos em diferentes países. Enquanto algumas economias mostram sinais de resiliência, outras enfrentam desafios consideráveis. Os bancos centrais da região estão equilibrando as condições econômicas domésticas com as tendências financeiras globais, o que leva a respostas variadas em termos de política monetária. Os desenvolvimentos políticos e as políticas fiscais também continuam sendo elementos críticos que influenciam a estabilidade econômica e o desempenho dos mercados. Apesar de cada país enfrentar fatores idiossincráticos e sensibilidades únicas ao cenário macroeconômico global, de maneira geral, a região nos parece estável.
Agosto de 2024 foi um mês memorável. A conversa nos mercados evoluiu de uma “inflação persistente” para “temores de recessão, versão 2,0”. A inquietação diminuiu quando o número de pedidos de seguro-desemprego apresentou um quadro melhor do que o esperado e os dados de inflação confirmaram uma tendência mais amena. Embora a recessão não seja nosso cenário base, os dados sobre o mercado de trabalho certamente devem ser levados em consideração. Ainda acreditamos que a economia esteja desacelerando, mas não despencando. Como afirmou o presidente da Reserva Federal (Fed), Jerome Powell, no simpósio econômico de Jackson Hole, chegou a hora de ajustar a política monetária.
Isso soou como música para os ouvidos dos bancos centrais da América Latina. Embora a dinâmica do crescimento tenha sido mista entre os países, ainda há um viés de flexibilização entre os bancos centrais (ex. Brasil). Uma perspectiva mais dovish para a Reserva Federal deve permitir que as autoridades monetárias da região continuem a flexibilizar a política sem prejudicar suas moedas e arriscar uma reversão nas dinâmicas inflacionárias, sobretudo com a atividade resiliente no Chile e no Peru. Para o Brasil, embora a inflação esteja se movendo na direção certa, o crescimento superou as expectativas e, hoje, o mercado precifica mais de 100 pb em aumentos, o que está alinhado com a expectativa de nossos economistas (mais detalhes disponibilizados abaixo). No geral, o crescimento será desigual em toda a região e, o mais importante, terá um custo: a deterioração fiscal.
Abaixo, apresentamos um resumo dos principais eventos para a região e nossas mais recentes perspectivas por país. Vamos nos aprofundar.
No cenário macroeconômico
Como está o crescimento?
Qual é o nosso posicionamento em relação à política monetária?
E quanto à política fiscal?
Na política
Nos mercados
No geral, agosto de 2024 tem sido, de fato, um mês crucial, com os mercados transitando de preocupações com a inflação para temores de recessão. Os dados encorajadores do mercado de trabalho e o abrandamento da inflação proporcionaram certo alívio e, apesar de não prevermos uma recessão, o enfraquecimento da economia requer atenção cuidadosa. Os bancos centrais da América Latina estão prontos para continuar com a flexibilização, apoiados por uma perspectiva dovish do Fed, com o Brasil sendo uma exceção notável devido ao seu crescimento robusto.
Embora o panorama econômico geral continue misto na região, há sinais promissores de resiliência e recuperação em vários países. O Brasil continua superando as expectativas, e o Peru demonstra uma forte recuperação cíclica. Embora o México e o Chile enfrentem desafios, seus setores industriais oferecem esperança, e políticas monetárias mais fáceis devem proporcionar um contexto favorável ao crescimento (sem esquecer das restrições fiscais). O prêmio de risco certamente aumentou devido às peculiaridades de cada região e à incerteza decorrente da perspectiva global, mas acreditamos que a região, em sua totalidade, permanece tendo uma base sólida.
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