Estratégia de investimento
1 minuto de leitura
O setor da saúde na América Latina está em meio a uma transformação significativa. A demanda por serviços de saúde está em alta, enquanto desafios persistentes em infraestrutura, financiamento e acesso limitam a capacidade da região de atender a essa demanda com eficiência. No entanto, essas tendências interligadas também apresentam uma oportunidade. Com investimentos e reformas políticas, a América Latina pode superar esses desafios, promovendo o crescimento econômico e melhorando a qualidade de vida de seus cidadãos.
Infraestrutura, acessibilidade e desigualdades no setor da saúde
Nas últimas décadas, o acesso e a acessibilidade financeira aos serviços de saúde na América Latina melhoraram consideravelmente. A expectativa de vida ao nascer aumentou de 71 para 74 anos, embora ainda esteja abaixo da média da OCDE.1 Além disso, os custos diretos com saúde, pagos pelos próprios pacientes, diminuíram de mais de 40% para cerca de 28%,2 indicando uma melhora na acessibilidade aos serviços (Fig. 1).
A desigualdade de renda agrava ainda mais esses desafios. Na Colômbia, por exemplo, 32% dos cidadãos mais pobres relataram dificuldades no acesso à saúde antes da pandemia, em comparação com apenas 19% dos mais ricos.5 Com exceção de Argentina, Costa Rica, México e Uruguai, os gastos com saúde privada vêm aumentando em toda a região.6 Atualmente, os gastos governamentais e com seguros de saúde obrigatórios na América Latina representam uma média de apenas 57% do total das despesas com saúde, um percentual bastante inferior à média da OCDE, que é de 74%.7 Esse panorama reflete a elevada taxa de despesas diretas pagas pelos próprios pacientes, contribuindo para um sistema de saúde desigual e dividido.
As desigualdades também são claras entre áreas urbanas e rurais: em 2020, 21% das famílias rurais na América Latina relataram dificuldades de acesso aos serviços de saúde, enquanto apenas 16% das famílias urbanas relataram o mesmo.8 Essa disparidade destaca a necessidade urgente de uma distribuição mais justa dos recursos de saúde.
Envelhecimento da população e demanda por serviços de saúde
A população da América Latina está envelhecendo rapidamente (Fig. 3). Até 2050, o número de idosos mais que dobrará, com pessoas de 60 anos ou mais representando mais de 25% da população total da região.9 Essa mudança demográfica trará grandes transformações para a força de trabalho da América Latina e aumentará a demanda por serviços de saúde, especialmente em cuidados de longo prazo e geriátricos, no tratamento de doenças crônicas e nos cuidados paliativos.
As doenças não transmissíveis (DNTs) — como doenças cardiovasculares, diabetes e câncer — já são a principal causa de mortalidade na região, sendo responsáveis por 77% dos óbitos.10 O envelhecimento está diretamente ligado à prevalência das DNTs e neutraliza os avanços obtidos por meio de iniciativas bem-sucedidas de saúde pública focadas na redução dessas doenças.11 Será necessário um atendimento geriátrico especializado para atender às necessidades da população idosa, especialmente em prevenção, tratamento e gestão das DNTs, à medida que o envelhecimento avança na América Latina nos próximos anos. No entanto, a disponibilidade desse atendimento ainda é limitada.12 Iniciativas de capacitação em geriatria para profissionais de saúde podem ajudar a suprir essa limitação, além de abrif oportunidades de emprego essenciais no setor.
A justificativa econômica para melhores sistemas de saúde
Sistemas de saúde mais eficientes não apenas salvam vidas, mas também impulsionam a prosperidade econômica. Pesquisas econométricas sugerem que um ano adicional na expectativa de vida está associado a um aumento de 2,4% no crescimento econômico de um país.13 Para países de baixa renda, esse impacto é ainda mais significativo, pois populações mais saudáveis contribuem para transições demográficas e crescimento econômico de longo prazo. Em nações mais ricas, a relação se dá pela melhoria da produtividade: trabalhadores mais saudáveis são mais produtivos, e adultos mais velhos que se mantêm saudáveis podem continuar participando da economia por mais tempo, impulsionando o consumo e reduzindo os custos de dependência.
O envelhecimento populacional como desafio e oportunidade
Apesar dos desafios associados ao envelhecimento, principalmente no que diz respeito à força de trabalho, essa população também representa uma força econômica poderosa. Globalmente, estima-se que pessoas com 50 anos ou mais serão responsável por US$ 118 trilhões (ou 39%) do PIB mundial até 2050.14 Na América Latina, a contribuição desse grupo será substancial: até 2050, os adultos mais velhos gerarão 48% do PIB do Brasil, 47% do PIB da Argentina e do Chile, e 35% do PIB do México.
Para aproveitar esse potencial, é fundamental realizar investimentos direcionados na infraestrutura de cuidados para idosos, incluindo instalações, capacitação profissional e tecnologia. Apoiar a participação ativa dos adultos mais velhos na economia é algo que pode reduzir os altos custos associados a doenças preveníveis, ao mesmo tempo em que promove a extensão da vida saudável. Essa iniciativa, por sua vez, estimula o consumo na população idosa.
O potencial de crescimento do setor de saúde e biotecnologia
Os setores de saúde e biotecnologia da América Latina ainda tem um potencial econômico inexplorado. O mercado biofarmacêutico, atualmente avaliado em US$ 32,4 bilhões, deve alcançar US$ 51,4 bilhões até 2029.15 Apesar desse crescimento, o setor farmacêutico contribui com, no máximo, 1% do PIB em qualquer país da região.16 A América Latina representa apenas 4% da receita farmacêutica global, um percentual bem abaixo de sua participação de 8,3% na população mundial.17
A produção farmacêutica fragmentada na região destaca oportunidades de expansão. Enquanto países como México e Uruguai produzem mais de 40% de suas necessidades farmacêuticas internas, outros, como Chile e Peru, atendem apenas 15% e 12%, respectivamente.18 Fortalecer a capacidade de produção local é uma forma de reduzir a dependência de importações e promover maior resiliência econômica.
As startups de biotecnologia também estão ganhando espaço, aproveitando a rica biodiversidade da região e seu talento em pesquisa e desenvolvimento para impulsionar tecnologias como diagnósticos baseados em IA. Até 2030, espera-se que o setor de biotecnologia na América Latina ultrapasse US$ 210 milhões, uma participação ainda pequena, mas em rápido crescimento no setor biofarmacêutico em geral.19
A inovação e a tecnologia em saúde também estão em plena expansão. Nos últimos dez anos, mais de 1,200 empresas de tecnologia em saúde emergiram na América Latina, com o Brasil assumindo a liderança desse movimento. Em 2022, o financiamento para o setor atingiu um pico de mais de US$ 650 milhões (Fig. 4).20, 21 Contudo, em 2023, observou-se uma queda notável, especialmente no setor da saúde, impulsionada por uma correção no financiamento geral de capital de risco, em meio a avaliações globais elevadas e aumentos nas taxas de juros. A telemedicina, catalisada pela pandemia da COVID-19, apresenta um potencial particularmente promissor. Durante esse período, as soluções de telessaúde e saúde digital ganharam aceitação rápida e ampla em toda a região. No Uruguai, por exemplo, 86% dos primeiros casos de COVID-19 foram gerenciados remotamente, facilitados por uma legislação favorável (Fig. 5).22 A demanda dos consumidores por telemedicina manteve sua força. 48% das pessoas na região afirmam preferir o atendimento virtual para acompanhamento médico, enquanto 41% optam por cuidados domiciliares para situações de baixa complexidade.23
Na América Latina, 81% das pessoas demonstram disposição para pagar por aplicativos que promovem o bem-estar, sendo que esse número chega a 88% no México. Um exemplo de empresa que está aproveitando esse novo cenário na região é a Nilo Saúde, no Brasil.24 A empresa oferece coordenação de cuidados e soluções de saúde para redes de serviços médicos e, em 2022, levantou US$ 10 milhões em financiamento de série A por meio de um grupo de investidores.25
Existem mudanças estruturais que podem contribuir para melhorar a saúde e a longevidade na região, ao mesmo tempo em que fortalecem o ambiente empreendedor:
Aumento dos investimentos em saúde
Colher os benefícios de uma população saudável exigirá investimentos nos sistemas de saúde. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) recomenda que os países destinem pelo menos 6% do PIB para a saúde. Contudo, apenas alguns atingem essa meta, como Cuba e Uruguai.26 O aumento dos investimentos é essencial para ampliar o acesso e enfrentar desafios futuros, mas alcançar esse objetivo será particularmente complexo diante das restrições fiscais e dos altos níveis de endividamento em muitos países da América Latina.27
Melhoria dos sistemas de informação em saúde
Sistemas de saúde eficientes exigem uma infraestrutura de dados robusta. Com o aperfeiçoamento dos sistemas de informação em saúde, formuladores de políticas e profissionais poderiam avaliar a qualidade do atendimento e os resultados com mais precisão, impulsionando melhorias contínuas.28
Promoção de soluções de saúde digital
A adoção de ferramentas de saúde digital, como a telemedicina, representa uma oportunidade transformadora. Essas tecnologias podem reduzir deficiências no acesso à assistência médica, sobretudo em áreas rurais com poucos recursos, além de impulsionar o crescimento do setor de tecnologia em saúde na região.29
Abordagem dos determinantes sociais da saúde
As disparidades na saúde muitas vezes têm origem em desigualdades sociais mais amplas. Focar nos determinantes sociais da saúde, como desigualdade de renda, educação e habitação, pode reduzir bastante essas desigualdades.30 Os formuladores de políticas devem priorizar iniciativas que abordem esses fatores estruturais para promover um sistema de assistência médica mais equitativo.
O setor da saúde da América Latina vive um momento decisivo. Apesar dos avanços no acesso e na acessibilidade, a região ainda enfrenta disparidades persistentes e precisa se preparar para uma demanda crescente por serviços de saúde.. Ao investir em infraestrutura, capacitação da força de trabalho e inovação tecnológica, a América Latina pode construir um sistema de saúde resiliente, capaz de enfrentar esses desafios.
Além disso, o setor de saúde apresenta uma oportunidade dupla: melhorar a saúde pública e impulsionar o crescimento econômico. O avanço da inovação em saúde e a abordagem dos determinantes sociais da saúde não apenas promoverão mais qualidade de vida em toda a região, mas também estabelecerão as bases para a prosperidade a longo prazo.
O caminho a ser seguido pela América Latina está claro. Ao aproveitar esse momento, a região pode transformar seus desafios no setor de saúde em um pilar para o desenvolvimento sustentável e para oportunidades econômicas.
1 https://data.worldbank.org/indicator/SP.DYN.LE00.IN?locations=ZJ; https://www.oecd.org/en/publications/health-at-a-glance-latin-america-and-the-caribbean-2023_532b0e2d-en.html
2 https://data.worldbank.org/indicator/SH.XPD.OOPC.CH.ZS?locations=ZJ
3 https://www.oecd.org/en/publications/2023/04/health-at-a-glance-latin-america-and-the-caribbean-2023_7ba284d7.html
4 https://www.thelancet.com/journals/langlo/article/PIIS2214-109X(23)00488-6/fulltext
5 https://www.scielosp.org/article/rpsp/2020.v44/e11/#
6 https://www.lse.ac.uk/business/consulting/assets/documents/latin-america-healthcare-system-overview-report-english.pdf
7 https://www.oecd.org/en/publications/health-at-a-glance-latin-america-and-the-caribbean-2023_532b0e2d-en.html
8 https://www.oecd.org/en/publications/2023/04/health-at-a-glance-latin-america-and-the-caribbean-2023_7ba284d7.html
9 https://www.oecd.org/en/publications/health-at-a-glance-latin-america-and-the-caribbean-2023_532b0e2d-en.html
10 https://www.oecd.org/en/publications/2023/04/health-at-a-glance-latin-america-and-the-caribbean-2023_7ba284d7.html
11 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667193X23000571
12 https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9384165/
13 https://link.springer.com/article/10.1007/s00181-022-02226-4
14 https://www.aarp.org/content/dam/aarp/research/surveys_statistics/econ/2022/global-longevity-economy-report.doi.10.26419-2Fint.00052.001.pdf
15 https://www.marketdataforecast.com/market-reports/latin-america-bio-pharmaceuticals-market
16 https://openknowledge.worldbank.org/server/api/core/bitstreams/353c099b-8aae-58f5-8a6d-c07eef593556/content
17 https://publications.iadb.org/en/publications/english/viewer/Health-Innovation--Technology-in-Latin-America--the-Caribbean.pdf
18 https://publications.iadb.org/en/publications/english/viewer/Health-Innovation--Technology-in-Latin-America--the-Caribbean.pdf
19 https://www.grandviewresearch.com/horizon/outlook/biotechnology-market/latin-america
20 https://publications.iadb.org/en/publications/english/viewer/Health-Innovation--Technology-in-Latin-America--the-Caribbean.pdf
21 https://news.crunchbase.com/venture/latin-america-startup-funding-eoy-2024/
22 https://www.paho.org/es/historias/telemedicina-uruguay-estrategia-que-lleg
23 https://www.mckinsey.com/industries/healthcare/our-insights/healthcare-in-latin-america-what-are-consumers-looking-for
24 https://www.nilosaude.com.br/
25 https://latamlist.com/brazilian-healthtech-nilo-saude-raises-10m-in-a-series-a-latamlist/
26 https://www.thedialogue.org/analysis/latin-americas-lagging-economies-and-setting-priorities-for-health-investment/
27 https://americasquarterly.org/article/latin-americas-renewed-fiscal-challenges/
28 https://www.oecd.org/en/publications/health-at-a-glance-latin-america-and-the-caribbean-2023_532b0e2d-en.html
29 https://publications.iadb.org/en/publications/english/viewer/Health-Innovation--Technology-in-Latin-America--the-Caribbean.pdf
30 https://oxfordre.com/economics/display/10.1093/acrefore/9780190625979.001.0001/acrefore-9780190625979-e-246
Podemos ajudá-lo a navegar em um cenário financeiro complexo. Entre em contato conosco para saber mais.
Contate-nosSAIBA MAIS SOBRE NOSSA EMPRESA E NOSSOS PROFISSIONAIS DE INVESTIMENTO NA FINRA BROKERCHECK.
Para saber mais sobre o negócio de investimentos do J.P. Morgan, incluindo nossas contas, produtos e serviços, bem como nosso relacionamento com você, consulte nosso Formulário CRS de J.P. Morgan Securities LLC e o Guia de Serviços de Investimento e Produtos de Corretagem.
JPMorgan Chase Bank, N.A.e suas afiliadas (coletivamente, "JPMCB") oferecem produtos de investimento que podem incluir contas administradas pelo banco e custódia como parte dos seus serviços fiduciários e de trust. Outros produtos e serviços de investimento, como contas de assessoria e corretagem são oferecidos através da J.P. Morgan Securities LLC("JPMS"), membro da FINRAe da SIPC. Produtos de seguros estão disponíveis por meio da Chase Insurance Agency, Inc. (CIA), uma agência de seguros licenciada, operando como Chase Insurance Agency Services, Inc., na Flórida. JPMCB e JPMS são empresas afiliadas sob controle da JPMorgan Chase & Co. Os produtos não estão disponíveis em todos os estados. Favor ler a Disposições Legais relacionada a estas páginas.
Por favor, leia o aviso legal para as afiliadas regionais do J.P. Morgan Private Bank e outras informações importantes em conjunto com estas páginas.