Estratégia de Investimento

Mercados privados em alta na América Latina: Que tendências estamos acompanhando?

Principais conclusões

  • Os mercados privados da América Latina mostram sinais de estabilização, com uma retomada dos investimentos em estágios avançados e uma alocação de capital mais seletiva.
  • Brasil e México se destacam como polos de crescimento, impulsionados por infraestrutura robusta, regulamentações favoráveis e uma forte entrada de capital, especialmente nos setores de saúde e tecnologia financeira.
  • Os investidores locais assumem um papel cada vez mais relevante nas operações, refletindo uma mudança estratégica na alocação de capital e reforçando a expansão dos mercados privados.
  • O interesse está concentrado em operações privadas nos setores de consumo discricionário, financeiro e tecnológico, com oportunidades para diversificação e aproveitamento da inteligência artificial e outras alternativas.

Ao longo da última década, os mercados privados da América Latina deixaram de ser periféricos para se tornarem protagonistas na atividade empreendedora. A região consolidou-se como um dos ecossistemas emergentes mais dinâmicos do mundo, impulsionada pelo talento local, rápida adoção digital e reformas regulatórias que estão transformando setores que vão das finanças à logística.

Antes da crise da COVID-19, o crescimento na região era constante, embora moderado, e muitas empresas em estágio inicial enfrentavam dificuldades para garantir rodadas subsequentes de financiamento. A chegada da pandemia acelerou a digitalização em pagamentos, comércio eletrônico, tecnologia para saúde e logística, gerando um boom de investimentos. As taxas de juros globais em mínimas históricas e a busca por maiores retornos impulsionaram o venture capital, que atingiu cerca de US$ 16 bilhões em 2021.

No entanto, o aumento das taxas nos Estados Unidos e a menor disposição global ao risco provocaram uma queda abrupta nos fluxos de investimento (reduzidos para cerca de US$ 4 bilhões em 2023). Mais recentemente, o mercado começou a se estabilizar. Em 2024, o investimento em estágios avançados cresceu 55% em relação ao ano anterior e o financiamento de venture capital se manteve em torno de US$ 4,5 bilhões, refletindo uma abordagem mais prudente e seletiva na alocação de capital.1

Os níveis de venture capital na América Latina se estabilizaram após a COVID-19

Investimento anual de venture capital na América Latina

Fonte: LAVCA. Dados até 31 de dezembro de 2024.

Geração de valor em empresas privadas: a tendência “prioridade ao privado”

Uma característica marcante deste ciclo é a geração substancial de valor enquanto as empresas permanecem privadas. Globalmente, as companhias estão adiando a abertura de capital: na Europa, a mediana para realizar uma oferta pública inicial (IPO) chegou a 29 anos em 2025, ante 15 em 20212, enquanto nos Estados Unidos passou de 10 anos em 2018 para 13 em 2025.3 A América Latina também reflete essa tendência de “prioridade ao privado”, impulsionada por reservas abundantes de capital que permitem às empresas fortalecer a rentabilidade e ampliar a participação de mercado antes de considerar uma abertura pública.

Esse capital global foi direcionado para os segmentos mais profundos e líquidos, reforçados por amplos fundos de poupança doméstica (fundos de pensão no Brasil e administradoras de fundos para aposentadoria, ou Afores, no México), que trazem maior estabilidade ao ecossistema. A modernização regulatória também desempenhou papel decisivo: o PIX no Brasil (método de pagamento mais utilizado do país) e o SPEI 24/7 no México (plataforma interbancária de transferências eletrônicas em tempo real) estabeleceram as bases da infraestrutura digital que impulsiona o rápido crescimento das fintechs e do comércio eletrônico.

Igualmente importantes são as lacunas no acesso financeiro. Em 2021, um em cada quatro adultos na América Latina ainda não tinha acesso a serviços bancários4 e apenas uma pequena fração das pequenas e médias empresas qualificava para crédito formal devido a sistemas concentrados, amplas margens de juros e critérios rigorosos de empréstimo. Essas desigualdades geraram oportunidades para as fintechs, cujo número quadruplicou entre 2017 e 2023.5

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) do Brasil atuou como fonte anticíclica de financiamento para inovação, enquanto o México se beneficiou da onda de nearshoring, que atraiu investimentos recordes em manufatura e logística. Em uma região onde muitos países ainda enfrentam controles cambiais e impactos inflacionários, ambos se destacam por segmentos amplos ainda pouco explorados e bases institucionais sólidas, posicionando-se como as plataformas mais robustas para o crescimento escalável dos mercados privados na América Latina.

A América Latina registrou uma reversão nos investimentos

Investimento anual na América Latina

Fonte: Bridgelat. Dados até 31 de março de 2025

Tendências de investimento nos setores de consumo discricionário, financeiro e tecnológico

Neste contexto, analisamos para onde estão se direcionando os esforços de investimento e como evoluiu a base de investidores em um ambiente macroeconômico e geopolítico em constante transformação.

Como esperado, a maior parte do interesse em operações privadas está concentrada em empresas de consumo discricionário, financeiras e tecnológicas. Esse padrão está bastante alinhado ao comportamento dos mercados públicos, já que o Índice MSCI de Mercados Emergentes da América Latina tem exposição aproximada de 38% a esses setores. Além disso, várias tendências estruturais de crescimento reforçam esse foco em áreas específicas, como inteligência artificial (IA) e seus ganhos projetados de eficiência em atividades intensivas em mão de obra, especialmente nos serviços.

Empresas de tecnologia financeira continuam atraindo grande parte do venture capital

10 principais verticais de tecnologia na América Latina, 2020-2024

Fonte: LAVCA. Dados até 31 de dezembro de 2024. Classificação por valor total investido (em milhões de dólares). Tecnologia para entrega inclui alimentos e restaurantes. TI: tecnologia da informação

Há diversas operações de destaque nos últimos anos que ilustram o interesse contínuo nos mercados privados da região.

Um exemplo é a Sul América S.A., cuja fusão em 2023 com a Rede D’Or contou com o apoio de São Luiz e The Carlyle Group. Essa combinação de duas das maiores instituições do setor de saúde no Brasil, voltada à integração dos negócios de seguros e odontologia, evidencia o dinamismo das operações privadas na região. A transação recebeu autorização incondicional, sem riscos à concorrência, refletindo a existência de marcos regulatórios favoráveis no país.

A Prisma Medios de Pago é outro exemplo recente que mostra o interesse contínuo do venture capital no setor de tecnologia financeira na última década. A empresa, anteriormente pertencente a um amplo grupo de bancos, segue como principal processadora de cartões de crédito e débito da Argentina. Em 2019, a gestora de private equity Advent International adquiriu participação majoritária por US$ 1,42 bilhão, destacando a relevância crescente do segmento para a recuperação da economia local. No início deste ano, a Advent avaliou lançar um IPO para reforçar sua tese de crescimento, com avaliação superior a US$ 5 bilhões.

Existem inúmeros exemplos nos mercados privados, mas os fatores que explicam esse crescimento podem ser atribuídos, ao menos em parte, à convergência de tendências estruturais persistentes. O impulso ao nearshoring derivado da guerra comercial com os Estados Unidos levou multinacionais a transferirem parte da produção para mais perto do mercado principal, incentivando fluxos de capital para a América Latina. Além disso, a recuperação pós-COVID-19 estimulou investimentos substanciais em infraestrutura de saúde, visando fortalecer os sistemas locais e atender novas demandas de saúde pública. Esse dinamismo é reforçado por reformas regulatórias que abrem subsegmentos como a telessaúde e contribuem para diversificar ainda mais o cenário de investimentos.

Principais motores de crescimento nos setores privados do Brasil e México

Para avaliar esse sentimento nos diferentes países da América Latina, utilizamos dados de venture capital, que oferecem uma perspectiva sobre a disposição dos investidores em participar de segmentos de alto risco e alto crescimento nos mercados privados.

O Brasil se destaca como principal motor desse dinamismo graças à infraestrutura sólida e ao ambiente regulatório favorável, que atraíram importantes transações em setores como saúde e tecnologia financeira, entre outros. Seu ecossistema financeiro consolidado e amplo mercado interno tornam o país propício para integração e expansão de grandes instituições, como demonstram acordos recentes no setor de saúde.

O México também desponta como mercado promissor, com sinais iniciais de fortes fluxos de capital impulsionados por sua posição estratégica para o nearshoring e um ambiente regulatório em evolução que favorece o desenvolvimento de novas indústrias, como a telessaúde.

Em conjunto, embora o sentimento dos investidores siga cauteloso diante do contexto macroeconômico atual, Brasil e México ganham destaque como polos-chave de crescimento, graças a vantagens estruturais que permitem atrair uma ampla gama de investimentos dos mercados privados de toda a América Latina.

Investidores nacionais passaram a responder por parcela significativa do financiamento de venture capital local

Financiamento de venture capital na América Latina por origem dos investidores, % do número de operações

Fonte: Atlantico. Dados até 30 de junho de 2025.
Um elemento interessante que reforça essa tendência é a origem do capital. Historicamente, os atores internacionais foram os principais responsáveis pelos fluxos necessários para que as empresas pudessem escalar e crescer adequadamente. No entanto, após a disrupção causada pela COVID-19, os capitais locais passaram a buscar oportunidades de expansão em seus próprios mercados. Com mais de 58% das operações lideradas exclusivamente por investidores latino-americanos, a região mantém posição sólida diante da incerteza global e da possível cautela dos fundos internacionais.

A maior parte do venture capital é direcionada ao Brasil e ao México

Financiamento de venture capital na América Latina por país, em milhões de dólares

Fonte: Atlantico. Dados até 30 de junho de 2025.

Para completar a história

Os investidores têm recorrido cada vez mais a operações privadas para captar oportunidades de crescimento disruptivo. A intensa atividade em setores como consumo discricionário, financeiro e tecnológico (especialmente no Brasil e em novos polos emergentes como o México) é apenas uma amostra do potencial do ecossistema de mercados privados na região. Além disso, o crescente protagonismo do capital local mostra uma mudança estratégica na alocação de recursos, que por sua vez impulsiona o dinamismo de um ambiente de investimentos em expansão.

Definições de índices:
MSCI Mercados Emergentes (EM) América Latina: O índice MSCI Mercados Emergentes (EM) América Latina representa empresas de grande e médio porte dos países emergentes da América Latina. O índice cobre aproximadamente 85% da capitalização de mercado ajustada pelo free float (ações em circulação) de cada país.

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O crescimento da atividade privada em setores como bens de consumo, finanças e tecnologia está marcando o início de uma fase de expansão e transformação na região.

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