Em meio a altas e baixas. Houve um progresso significativo no combate à inflação, abrindo caminho para os bancos centrais intensificarem (ou, darem início, em alguns casos) a redução das taxas de juros.
Em meio a altas e baixas. Houve um progresso significativo no combate à inflação, abrindo caminho para os bancos centrais intensificarem (ou, darem início, em alguns casos) a redução das taxas de juros. Diante deste fato, como costuma acontecer, o progresso pode ser instável e o caminho para a normalização tem se mostrado não linear. Este panorama nos faz questionar se, em alguns países da América Latina, poderíamos estar próximos do fim dos ciclos de flexibilização monetária.
Para contextualizar, comecemos com a leitura da inflação nos Estados Unidos em fevereiro, que foi mais alta do que o esperado. Tanto o índice geral de preços ao consumidor (IPC) como seu núcleo subiram 0,4% em relação ao mês anterior, e o núcleo ficou um pouco acima das expectativas de 0,3%. Em termos anuais, o núcleo ficou em 3,8%, em comparação com os 3,9% do mês anterior, enquanto a medição geral atingiu 3,2%, em comparação com os 3,1% do mês anterior (um pouco mais alta!). Os números não representam o fim da desinflação, considerando que o progresso tende a vir com alguns solavancos, especialmente com um cenário econômico tão resiliente. Pelo contrário, é provável que este cenário impeça a Reserva Federal de sinalizar qualquer alteração em seus planos de redução, deixando o mês de junho como a movimentação mais precoce (nosso caso de base, para o qual os mercados atribuem hoje cerca de 70% de probabilidade de uma redução).
Por outro lado, a América Latina tem presenciado um progresso significativo. Do máximo ao mínimo, a inflação caiu em média 650 pontos base, ficando apenas 190 pontos base, em média, acima da meta média para os países que adotam uma meta de inflação. De fato, a inflação está em queda abaixo da média de 10 anos em uma base a.a. em cada país, com exceção da Colômbia. No entanto, vale ressaltar que as leituras mais recentes da inflação em toda a região vieram mais altas do que o esperado (com exceção do México).
A inflação avançou consideravelmente em toda a região
Índice de preços ao consumidor a.a. do México
Índice de preços ao consumidor a.a. da Colômbia
Índice de preços ao consumidor a.a. do Chile
Índice de preços ao consumidor a.a. do Brasil
Índice de preços ao consumidor a.a. do Peru
Naturalmente, a contínua desinflação deve permitir que os bancos centrais intensifiquem seu ciclo de flexibilização (ou comecem a fazê-lo, no caso do México!). No entanto, alguns podem ter chegado ao fim da sua missão. Vamos nos aprofundar nos destaques dos relatórios da inflação de fevereiro em toda a região, e conferir o que esperar.
- A inflação no México abre caminho para um primeiro corte de taxas de juros. A inflação geral ficou abaixo das expectativas em 0,1% em relação ao mês anterior, o que reduziu a leitura anual de 4,9% em janeiro para 4,4%. A preocupante inflação do núcleo ficou alinhada às expectativas traçadas em 0,5% em relação ao mês anterior, conduzindo a avaliação a.a. para 4,6%. Embora a inflação permaneça elevada e haja razões para ter cautela (com destaque para os serviços, habitação e educação, que continuam em alta), isso abriu caminho para o Banxico reduzir as taxas pela primeira vez – juntando-se aos demais bancos centrais da região. Conforme esperado, eles reduziram as em 25 pontos base, levando a taxa de politica para 11%. Além disso, o governador do banco central indicou que “ as futuras ações serão consistentes com as medidas necessárias para levar a inflação à meta do banco central no futuro próximo”, enfatizando que o processo de flexibilização monetária continuará sendo realizado com cautela.
- A inflação no Brasil desacelera, mas permanece acima das expectativas. Os números do IPC atingiram 0,8% em relação ao mês anterior e 4,5% a.a. (vs. o consenso de 0,79% e 4,45%, respectivamente). Apesar de estar acima das expectativas, a real surpresa decorreu do aumento nos preços dos alimentos e combustíveis. Os serviços essenciais continuam sob pressão, com os aluguéis dentro do esperado e serviços moderados compensando a leve aceleração nos custos dos alimentos. Isso também é evidenciado no núcleo do IPC mês a mês, que caiu de 4,5% em janeiro para 3,9%. Dito isso, o banco central cortou as taxas em 50 pontos-base, deixando a taxa básica 10,75%. A instituição também indicou que poderia considerar outro corte de 50 pontos-base em maio se os dados econômicos continuarem na mesma direção. Nossos economistas mantêm uma meta de 9,5% como taxa terminal para este país.
- A inflação na Colômbia prepara o terreno para mais reduções. O IPC geral e seu núcleo atingiram 1,1% e 1,2%, respectivamente, um pouco acima das expectativas de 1,0% e 1,1%. Embora tenha ficado acima do consenso, a avaliação anual do IPC geral e o seu núcleo caiu para 7,7% e 9,2%, respectivamente, em comparação com os 8,4% e 9,7% do mês passado. O principal fator: educação, habitação e energia foram as categorias que mais contribuíram, com pouca influência no que tange à alimentação. Dito isso, o banco central acelerou o processo de ajuste das taxas em 50 pontos-base, deixando-a em 12,25%. Apesar de alguns obstáculos pendentes, a taxa real ainda está bastante alta, então nossos economistas esperam ver outro corte de 50 pontos-base na próxima reunião, e um aumento nos cortes na segunda metade do ano.
- A inflação no Peru realmente veio alta. O IPC de Lima ficou em 0,6% em relação ao mês anterior, bem acima das expectativas de 0,20% e levando a avaliação a.a. para 3,3% (consideravelmente mais alta do que os esperados 2,9%). Da mesma forma, a inflação do núcleo ficou em 0,5% (em relação ao consenso de 0,3%). A alta inesperada foi explicada pelos preços do núcleo e dos alimentos (particularmente pelo serviço de fornecimento de água para Lima, além dos preços da carne de frango, ovos, restaurantes e hotéis). Embora a atividade econômica tenha começado a se fortalecer no quarto trimestre de 2023, com o PIB real subindo 2,1%, o hiato de produção permanece negativo, e as pressões subjacentes de inflação do núcleo devem se mostrar moderadas no futuro. Com isso em mente, o banco central decidiu manter a taxa de juros inalterada em 6,25%, com condições monetárias ligeiramente facilitadas por meio de requisitos de reservas reduzidos, o que também foi respaldado por vários indicadores de atividade econômica sinalizando uma recuperação nos próximos meses.
- A inflação no Chile atingiu as alturas, para nossa surpresa. Tanto o índice geral quanto o seu núcleo registraram 0,6% em relação ao mês anterior, muito acima das expectativas, o que levou a avaliação a.a. para 4,5% (acima dos 3,8% de janeiro) e 4,2% (abaixo dos 4,3% de janeiro), respectivamente. Embora tenha havido algumas inclinações sazonais, sem mencionar como a mudança nos pesos do IPC e atualizações adicionais afetaram a avaliação, a análise detalhada mostra que o setor de habitação (preços de aluguéis), as tarifas aéreas internacionais e as assinaturas de conteúdo audiovisual são responsáveis pela maior parte do aumento. Assim, nossos economistas revisaram nossa meta de inflação referente ao final do ano para 3,7%. Em relação à última avaliação, eles também ajustaram sua previsão de redução para 75 pontos base na taxa de juros (de um corte de 100 pontos base, anteriormente), elevando-a para 6,5%. É prevista uma desaceleração adicional no ritmo de flexibilização nas próximas reuniões.
Apesar dos solavancos em alguns momentos, espera-se que as taxas em toda a região diminuam em geral ao longo de 2024; afinal, a inflação continua caminhando para a faixa-alvo dos bancos centrais, enquanto o crescimento econômico da América Latina está começando a se fortalecer em todos os lugares.