Como investir em um mundo com cada vez mais riscos à segurança
Riscos geopolíticos e de segurança estão rapidamente remodelando os mercados globais.
Após anos de paz pós-Guerra Fria, as hostilidades internacionais na Europa e no Oriente Médio se transformaram em conflitos armados, aumentando a urgência das discussões de alto nível sobre segurança nacional e gastos com defesa.
Em meio a esse tumulto, os Estados Unidos estão se aproximando de uma eleição presidencial em novembro. Quando os americanos comparecerem para votar, estarão em boa companhia: espera-se que mais de 1,5 bilhão de pessoas em pelo menos 50 países irão às urnas este ano — uma porcentagem sem precedentes da população global.1
E como os investidores podem compreender essas mudanças iminentes?
Em primeiro lugar, é importante entender que eventos geopolíticos não costumam ter impactos de longo prazo nas carteiras de investimento. Embora as interrupções possam criar volatilidade a curto prazo, o crescimento econômico, a inovação e uma carteira diversificada podem ajudar os investidores a manterem seus planos e alcançar seus objetivos ao longo do tempo.
Quando os riscos surgem, no entanto, e em períodos mais longos de incerteza elevada, também é provável surgirem oportunidades de investimento. Desta vez não é diferente. É crucial observar as diversas formas pelas quais governos e corporações ao redor do mundo estão se preparando para enfrentar desafios geopolíticos ao investir em, e aprimorar, sua própria segurança.
Com o aumento das ameaças multipolares, os gastos estão sendo cada vez mais direcionados à busca de novas e inovadoras soluções de segurança. Vemos o surgimento de quatro áreas de foco temático que serão essenciais para o futuro da segurança: defesa nacional, fornecimento de energia, cadeias de suprimentos e segurança cibernética.
Como investidor, você pode enxergar essas tendências relacionadas à segurança como novas oportunidades para estrategicamente alocar seu capital em ambos os mercados públicos e privados. Aqui, exploramos cada um desses temas de investimento detalhadamente.
Segurança nacional: o poder da defesa tradicional
Existem abundantes perigos no ambiente geopolítico atual. O conflito armado está agora no nível mais alto em 80 anos, com guerras ativas e em andamento na Europa e no Oriente Médio (Gráfico 1A). As tensões entre as duas grandes potências, China e Estados Unidos, também estão aumentando acentuadamente. E ainda assim, os investimentos federais em defesa nacional, como porcentagem do PIB dos EUA, vêm diminuindo gradualmente ao longo do tempo (Gráfico 1B).
Os conflitos armados globais atingem o nível mais alto em 80 anos
Número total de conflitos armados
Os investimentos em defesa têm diminuído em meio a níveis históricos de conflito
Gastos do governo federal com defesa nacional como % do PIB
Essa dinâmica pode começar a mudar em breve, o que poderia fornecer um forte impulso para as empresas de defesa.
Após as eleições, é provável que a liderança dos EUA precise avaliar a melhor forma de manter o poder militar do país, enquanto a China e a Rússia continuam a atualizar seus sistemas militares e armamentos. Pensando no cenário que está por vir, os níveis de gastos com defesa dos EUA podem precisar ser recalibrados com foco nas ameaças futuras.
Outros países, especialmente outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), também estão se sentindo pressionados a aumentar seus níveis de gastos militares para os orçamentos acordados, sob pressão dos EUA e em resposta à invasão da Rússia na Ucrânia. Apenas 11 países da OTAN estão atualmente cumprindo suas obrigações de gastos com defesa, e é esperado que outros sete aumentem seus gastos este ano.2
Os Estados Unidos, que ainda são de longe a maior potência militar do mundo, bem como o maior exportador de hardware e armamentos militares, provavelmente se beneficiarão de qualquer gasto adicional por parte dos membros da OTAN.3 Outros países também podem começar a diversificar suas cadeias de suprimentos no futuro. Na defesa nacional, assim como em qualquer indústria global, a alocação de recursos para diversos fornecedores pode espalhar o risco e aumentar a resiliência.
Fornecimento de energia: preparando-se para uma transição global
À medida que o mundo faz a transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia renováveis para combater as mudanças climáticas, os formuladores de políticas nos Estados Unidos e em outros países estão investindo enormes quantias de capital dos contribuintes no desenvolvimento de fontes de energia mais sustentáveis, como a solar e a eólica.4
O objetivo? Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), uma organização intergovernamental fundada em 1974 para responder às crises de petróleo da época, as emissões de dióxido de carbono (CO2) precisarão ser equilibradas, ou mantidas em “líquidas zero”, até 2050 para controlar as mudanças climáticas.5
Os níveis recentes de gastos refletem a urgência deste mandato ambiental. Os gastos globais em energias renováveis já atingiram quase USD 2 trilhões por ano (Gráfico 2). À medida que os países buscam alcançar suas metas de emissão líquida zero, espera-se que os investimentos em tecnologia de energia limpa mais do que dobrem até 2030, atingindo USD 4,6 trilhões.
A aceleração da transição energética global impulsionará um aumento acentuado nos investimentos em tecnologia limpa
Gastos globais na transição energética para “emissões líquidas zero” (trilhões de USD)
Conforme os gastos do governo aumentam, os investimentos em novas tecnologias e infraestrutura energética provavelmente receberão um impulso, potencialmente criando novas oportunidades para os investidores.
Cadeias de suprimentos: a manufatura se aproxima de casa
Por décadas, muitos investidores perceberam a globalização como uma tendência de via única. Mas mesmo antes da COVID, o início de uma guerra comercial e tarifária entre a China e os Estados Unidos em 2018-2019 já havia começado a pressionar as cadeias de suprimentos de manufatura.6
Na esteira da pandemia da COVID, os riscos inerentes ao offshoring (a prática de estabelecer instalações de manufatura de baixo custo e geograficamente distantes) agora estão dolorosamente claros. A COVID destacou quão vulneráveis as empresas estavam às interrupções na cadeia de suprimentos. O choque dessa realização desde então levou muitas empresas a reavaliarem seus modelos de entrega just in time.
Para remediar essa situação, e impulsionadas por conflitos recentes que alteraram radicalmente as rotas de transporte marítimo globais, algumas empresas estão agora explorando a logística envolvida em realocar empregos de fabricação de volta ao país de origem. Desde 2021, os anúncios de reshoring dos EUA alcançaram um valor de USD 322 bilhões.7 Outras empresas também estão praticando o friendshoring, trazendo empregos de manufatura para mais perto de casa ao contratar trabalhadores em países geograficamente adjacentes (e politicamente alinhados).
A importância desses esforços para setores específicos da indústria não pode ser subestimada. Na tecnologia, os semicondutores são absolutamente essenciais para a funcionalidade de smartphones e dispositivos domésticos, mas a maioria das empresas que produzem esses produtos depende excessivamente de chips avançados fabricados em Taiwan (Gráfico 3).
A cadeia de suprimentos global para a produção de semicondutores está fortemente concentrada em Taiwan
Participação de Taiwan no mercado global de semicondutores (% de produção)
O futuro político de Taiwan está longe de ser garantido. A China está abertamente buscando a “reunificação” com a ilha autônoma, o que o governo democraticamente eleito de Taiwan rejeita. O potencial para conflitos futuros paira no ar: pouco antes das últimas eleições em Taiwan, em janeiro, navios de guerra e aviões de combate chineses foram avistados realizando manobras no Estreito de Taiwan.8
O governo dos Estados Unidos está agora incentivando a construção de mais instalações domésticas de fabricação de semicondutores e centros de dados. Em março, o presidente Joe Biden anunciou um acordo preliminar com a empresa de tecnologia Intel Corporation para fornecer USD 8,5 bilhões em financiamento direto e acesso a USD 11 bilhões em empréstimos sob a Lei CHIPS e Ciência de 2022.9 A empresa planeja usar os fundos para construir e expandir instalações de semicondutores em vários estados, e criar até 30.000 novos empregos.10
Segurança cibernética: encontrando novas maneiras de combater ameaças digitais
O hacking está entre as ameaças de segurança mais reconhecidas para governos e empresas. As violações de segurança cibernética agora ocorrem quase diariamente, e os danos associados aumentaram com a frequência dos ataques: o custo médio de uma única violação de dados aumentou de USD 3,62 milhões em 2017 para USD 4,45 milhões em 2023, um aumento de 23% (Gráfico 4).
Governos e empresas precisam investir mais para proteger seus dados contra ciberataques
Custo total de uma violação de dados, em milhões de USD
Para as empresas afetadas, principalmente nos setores de saúde e serviços financeiros, a perda de confiança dos consumidores após uma violação desse tipo pode ser ainda mais profunda.
Empresas — e, cada vez mais, governos — estão investindo mais do que nunca para proteger seus bancos de dados e sistemas de defesa críticos contra ataques cibernéticos. Hoje, a cibersegurança constitui 12% dos orçamentos totais de tecnologia, um aumento de três pontos percentuais desde 2020.11 De acordo com um relatório recente do grupo de consultoria McKinsey & Company, o mercado potencial para soluções de cibersegurança pode eventualmente atingir de USD entre USD 1,5 trilhão a USD 2 trilhões.12
Como os investidores podem se envolver no futuro da segurança?
A maioria das oportunidades neste espaço exigirá uma combinação de alocações de ações públicas e privadas. Consideramos os temas que destacamos como tendências de investimento estratégico de longo prazo, e acessar tais mudanças requer um comprometimento paciente de capital.
Sugerimos que os investidores considerem diversificar suas carteiras de ações, alocando cuidadosamente fundos em oportunidades relacionadas à segurança como parte de um plano de investimento estratégico de 10 a 15 anos. Com a orientação de gestores ativos com experiência em cada um desses setores da indústria, os investidores podem obter insights sobre oportunidades emergentes tanto nos mercados públicos quanto privados.
Nós podemos ajudar
Para saber mais sobre as oportunidades disponíveis para investir no futuro da segurança, fale com sua equipe do J.P. Morgan.
1Kings College London, “A guide to who is voting and when in this historic year for democracy”, 12 de janeiro de 2024.
2Fontes: Departamento de Defesa dos EUA; OTAN. Dados de abril de 2024.
3OEC; CEPII. Dados de 2022.
4O Congresso aprovou a Lei de Investimento em Infraestrutura e Empregos em 15 de novembro de 2021
5“Emissões líquidas zero” refere-se ao cenário “Emissões Líquidas Zero até 2050” da Agência Internacional de Energia, que descreve o investimento necessário para alcançar a estabilização das temperaturas médias globais em 1,5 °C.
6Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos, 18 de setembro de 2018.
7A Casa Branca, a Iniciativa de Reshoring, 30 de novembro de 2023.
8Redatores, “Taiwan spots Chinese warships, aircraft near island ahead of elections”, Al Jazeera, 23 de dezembro de 2023.
9A Casa Branca, “President Biden announces up to an $8.5 billion preliminary agreement with Intel under the CHIPS and Science Act”, 20 de março de 2024.
10Ibid.
11IANS Research Security Budget Benchmark Report. Dados de 3 de outubro de 2023.
12Bharath Aiyer, Jeffrey Caso, Peter Russell e Marc Sorel, “New survey reveals $2 trillion market for cybersecurity technology and service providers”, McKinsey & Company, 27 de outubro de 2022.
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