A região não ficou imune à volatilidade global. E como sabemos, quando os Estados Unidos enfrentam problemas, o mundo todo sente os efeitos, principalmente a América Latina.
As últimas semanas têm sido bastante movimentadas para os mercados. Os indicadores macroeconômicos nos EUA têm oscilado as expectativas de um extremo a outro – de cortes nas taxas de juros a quase nenhum corte – até o risco de estagflação. E quando os Estados Unidos enfrentam problemas, o mundo todo sente os efeitos, principalmente a América Latina. A nossa região não ficou alheia às mudanças na visão do mercado, já que tudo se resume à Reserva Federal. Além disso, as idiossincrasias também desempenharam seu papel, e apesar do nosso otimismo em relação à região, reconhecemos que os riscos estão mais altos. Aqui estão as últimas notícias sobre macroeconomia, política e mercados na América Latina, que acreditamos serem essenciais para abordar nas conversas com os clientes:
1. Na frente macroeconômica
I. Como estamos em termos de crescimento? O forte ímpeto tem se mantido ao longo do ano. A mais recente demonstração de força tem sido o México. Enquanto as expectativas de crescimento do PIB estavam bastante baixas (-0,2%, trimestre a trimestre), a economia apresentou um desempenho mais forte do que o esperado (+0,8%, trimestre a trimestre), provando que a queda recente foi realmente passageira. O principal motor foi o consumidor resiliente, impulsionado por fluxos de renda real, e o setor manufatureiro ganhando impulso com os últimos dados mostrando clara expansão. Aqui, nossos economistas revisaram suas previsões de crescimento do PIB referente ao ano completo de 2024 para 2,1% a.a. (anteriormente era de 1,9% a.a.). Além do México, os países andinos também surpreenderam positivamente. A atividade econômica principal do Chile acelerou para um excepcional 8,3% trimestre a trimestre, impulsionada sobretudo pela forte atividade de mineração (que aumentou 30,4%, trimestre a trimestre). Na Colômbia, embora o consumo permaneça relativamente fraco, a agricultura e a mineração têm sido bastante fortes. Com isso em mente, novos cortes na taxa de juros devem reestimular o consumo – portanto, o BanRep recentemente elevou suas perspectivas de crescimento econômico e nossos economistas fizeram o mesmo (agora esperando que o PIB de 2024 esteja em 1,4% a.a.). Por outro lado, o governo do Brasil comemora a melhoria na perspectiva de classificação, baseada em suas reformas recentes e crescimento estável. Nesse aspecto, nossos economistas continuam a prever um crescimento do PIB de 2,2% para 2024.
II. Qual é a nossa posição em relação à política monetária? A inflação tem mantido uma tendência de queda, e atualmente está dentro da faixa de metas de inflação do Banco Central, com exceção da Colômbia e do México.
A inflação progrediu em direção às metas dos bancos centrais, com exceção do México e da Colômbia
Inflação e meta de inflação dos bancos centrais
No entanto, a inflação subjacente tem se mostrado mais persistente do que o previsto, impulsionada sobretudo por consumidores resilientes (em alguns lugares mais do que em outros). Em relação ao ciclo de flexibilização das regiões, os cortes esperados nas taxas de juros têm acompanhado as condições econômicas. No México, espera-se que as taxas de juros permaneçam estáveis, uma vez que a inflação dos serviços básicos continua alta, enquanto o crescimento se mantém sólido (impulsionado por salários mínimos mais altos e gastos públicos elevados). De fato, agora prevemos menos reduções por conta do crescimento econômico. Ao contrário, espera-se que o Peru permaneça em pausa, já que a inflação surpreendeu negativamente, enquanto o crescimento econômico tem enfrentado dificuldades. Espera-se que o Brasil desacelere seu ciclo de flexibilização devido aos altos gastos com as contas públicas federais, o que reforça alguns desafios futuros. Por outro lado, espera-se que a Colômbia mantenha de forma consistente o seu ciclo de flexibilização, uma vez que a tendência de queda da inflação continua.
III. E quanto à política fiscal? Em termos gerais, estamos abaixo das expectativas, com exceção da Argentina (uma vez que uma das principais promessas de Milei tem sido a disciplina fiscal). Nos países andinos, uma significativa falta de receitas fiscais, combinada com um aumento nos gastos públicos, resultou em um aumento dos déficits fiscais, que vêm se acumulando desde 2021. Tanto o Chile quanto o Peru têm observado um aumento nos gastos com investimentos de capital, mas esperam ver um crescimento na arrecadação de impostos à medida que a atividade econômica se intensifica (e os preços do cobre aumentam). A Colômbia, ao contrário, não espera ver um aumento nas receitas e não tem planos de reduzir os gastos totais o que se traduz em um déficit fiscal maior do que o esperado com riscos de queda. Por outro lado, embora o Brasil tenha apresentado surpresas positivas em termos de receitas durante o primeiro trimestre, o forte crescimento das despesas recorrentes nas contas públicas federais e as inundações intensificaram os riscos no médio prazo. Enquanto isso, no México, o governo tem se abstido de fornecer estímulos fiscais. No entanto, espera-se que o déficit fiscal aumente cerca de 2%, impulsionado pelos gastos públicos em um ano eleitoral.
2. América Latina e política, sempre...
IV. Eleições no México: Sheinbaum tem 30 pontos de vantagem sobre Xochitl, como está o congresso? O Congresso é a ponto central, sendo que as pesquisas mostram Morena com 42%, seguido por PAN (20%), PRI (8%) e MC (7%). Apesar de algumas pesquisas de opinião darem vantagem a Morena, partido governante no Congresso, não está claro se conquistará dois terços das cadeiras. Sem essa maioria qualificada, o partido Morena sob a liderança da Sra. Sheinbaum teria que negociar com a oposição para aprovar leis. Dito isso, considerando que as votações legislativas tendem a seguir o padrão das votações presidenciais, Morena e seus aliados poderiam tentar se aproximar do MC para avançar com uma agenda abrangente que poderia incluir emendas constitucionais. Em outra nota, Sheinbaum pediu a Ramirez da Oposição que permaneça como Ministro das Finanças, o que pode ser benéfico para a continuidade das políticas.
V. Argentina: a "Lei Ônibus" 2.0 agora está no Senado. Quais são as chances de aprovação? Antes de nos aprofundarmos em possíveis cenários, é importante lembrar que os principais pontos do projeto de lei incluem uma reforma trabalhista, incentivos para grandes investimentos e a delegação de poderes ao poder executivo para modificar, fundir ou dissolver fundos governamentais federais com propósitos especiais. Agora, o foco se volta para o Senado. O processo é semelhante ao da Câmara dos Deputados: os projetos de lei primeiro precisam ser aprovados na comissão, em seguida ocorre uma votação geral e, se os projetos forem aprovados, os legisladores votam em cada artigo individualmente. Nossos economistas do IB ainda atribuem uma alta probabilidade de aprovação do projeto, embora com modificações, o que poderia atrasar a promulgação da lei.
VI. Proposta de reforma tributária no Brasil: o governo brasileiro apresentou ao Congresso as regulamentações para introduzir o novo modelo de tributação, Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual, no contexto do projeto de reforma tributária. Se aprovada, a proposta será revisada pelo Senado antes de ser submetida à aprovação presidencial. Sob o novo projeto de lei tributária, o governo implementaria um regime de IVA dual, incluindo: 1) imposto sobre bens e serviços que substituiria o ICMS estadual e o ISS municipal sobre serviços; 2) contribuição sobre bens e serviços que substituiria as contribuições federais PIS/COFINS, bem como o imposto federal sobre produtos industrializados. O principal objetivo é simplificar amplamente o sistema tributário brasileiro, reduzindo o custo de conformidade para as empresas, mas adicionando um novo imposto sobre determinados bens e serviços.
VII. Colômbia: reforma da saúde evitada. O Senado da Colômbia rejeitou uma reforma na saúde proposta pelo governo de Petro, destinada a reduzir o poder das seguradoras e ampliar o acesso aos cuidados de saúde – o que a oposição disse que abriria espaço para corrupção. O projeto de lei propôs a criação de uma agência governamental que centralizaria os pagamentos para garantir desembolsos rápidos para clínicas e hospitais (que costumam reclamar de atrasos), além de criar centros de atenção primária para assegurar atendimento oportuno aos pacientes e desafogar os serviços de emergência, embora limitados pelos centros próximos à residência dos pacientes. A oposição criticou a medida, que dará ao governo mais controle sobre o sistema de saúde. Fique atento, pois o governo poderá propor uma nova versão da reforma na próxima sessão legislativa em julho.
VIII. Peru: aprovação para saques de pensão. O Congresso do Peru aprovou um projeto de lei (com o apoio de 95 dos 105 parlamentares) que permite aos trabalhadores fazerem saques de suas contas de aposentadoria, uma medida que, segundo as autoridades, poderia levar a retiradas no valor de US$ 7 bilhões. Este será o sétimo saque aprovado desde 2020, representando cerca de US$ 24 bilhões em saques de contas individuais de aposentadoria. A principal preocupação é o impacto nos mercados peruanos. Os fundos de pensão estão entre os maiores compradores de títulos soberanos e ações locais, e agora espera-se que vendam quantidades significativas para atender às necessidades de caixa.
3. Nos mercados
IX. Valorizações da moeda. Como estamos no momento? Em grande sintonia com os demais ativos globais, as moedas na América Latina têm sido impulsionadas pela economia dos EUA e pela geopolítica. Observamos uma desvalorização forte em todos os aspectos nos dias que antecederam o conflito entre Irã e Israel em 15 de abril – com o MXN, BRL, CLP, COP e PEN todos depreciando cerca de 280 pontos base, em média. A partir desse momento, vimos as moedas se valorizarem consideravelmente após o fraco desempenho demonstrado nos dados do PIB dos EUA. Dito isto, desde o início do ano, algumas moedas tiveram um desempenho melhor do que outras.
Em toda a América Latina, algumas moedas tiveram melhor desempenho do que outras
Desempenho acumulado do ano
O BRL e o CLP têm sido os que mais se desvalorizaram em toda a região. No Brasil, a agitação política em torno de preocupações renovadas sobre a interferência do governo em algumas das maiores empresas do país e um déficit fiscal mais amplo têm prejudicado o desempenho, enquanto o CLP depreciou-se após um ciclo de flexibilização agressivo, que passou por um alívio após a recente valorização do cobre. Por outro lado, o MXN tem-se mantido estável, uma vez que o Banxico parece inclinado a manter as taxas “mais altas por mais tempo” após a inflação de serviços básicos ser mais persistente do que o esperado e um sólido crescimento econômico, enquanto o COP tem demostrado muita resiliência após os elevados preços do petróleo e um sentimento de maior apetite por risco.
X. Lucros. Como estão as tendências de lucros? No âmbito dos mercados emergentes, 33% das empresas reportaram os resultados do T1-2024. No geral, os resultados foram positivos e acima das expectativas, com 46% das empresas superando as estimativas (vs. 27% que não alcançaram). Assim, na América Latina, os lucros estão em linha com o consenso até o momento – com apenas o setor de tecnologia superando as estimativas do consenso, mas as expectativas de EPS foram revisadas para baixo (-1,5%) – sendo o México um dos pontos fracos, pois teve um desempenho abaixo do crescimento de EPS nos mercados emergentes sem relação ao ano anterior.