Estratégia de investimento

Além dos unicórnios: Empresas menores também são promissoras na América Latina

15 de out de 2021
Este artigo foi escrito pelo Economist Impact, com o apoio do J.P. Morgan.

As oportunidades não terminam com os unicórnios. Na América Latina existem muitas empresas menores que, sob a bandeira de “novas soluções para velhos problemas”, apresentam grande potencial de investimento.

No mundo das startups1 ganhar o status de "unicórnio"2 parece ter se tornado o grande objetivo. A perspectiva de cruzar a linha de valor de mercado estimado em US$ 1 bilhão é uma meta tentadora para empresas e investidores. Com o número de unicórnios crescendo em todo o mundo, muitos investidores na América Latina — que até hoje tem comparativamente poucos unicórnios — estão especulando sobre quais empresas na região poderiam replicar essas tendências. Os governos também estão com o foco no crescimento do mercado de unicórnios como uma métrica para o sucesso do desenvolvimento da América Latina. Entretanto, a figura mítica do unicórnio é um tanto obscura. Há uma fórmula secreta para identificar ou criar um unicórnio?

Manter o foco somente em empresas que possam atingir status de unicórnio pode ser um erro: há oportunidades consideráveis de investimento em empresas menores, que muitas vezes oferecem grande potencial de retorno em setores que incluem varejo, serviços financeiros, saúde e educação. Fora das grandes economias do Brasil, México, Argentina e Colômbia, muitas startups latino-americanas podem ter dificuldade de atingir status de unicórnio, por conta do tamanho pequeno dos mercados da região e internacionalização ainda em desenvolvimento. Mas os investidores não devem desanimar: o status de unicórnio é arbitrário, e empresas menores e dinâmicas que apresentam novas soluções para velhos problemas oferecem um bom potencial de investimento — ao mesmo tempo em que resolvem alguns dos objetivos de desenvolvimento importantes da região.

Este artigo analisa o ambiente das startups privadas nos principais mercados da América Latina e explora como a tecnologia, o aumento no foco dos governos e as iniciativas do setor privado podem apoiar essa indústria e proporcionar crescimento econômico. Como foi caso em outros lugares, a combinação certa de produtos inovadores e um forte ambiente favorável, juntamente com uma base de investidores motivados, pode transformar os desafios da América Latina em uma fonte de crescimento econômico.

O número de empresas unicórnio no mundo todo cresceu de maneira acentuada nos últimos anos. Com o termo inicialmente refletindo a raridade de um crescimento tão veloz de uma nova empresa, dados sugerem que hoje existam 770 unicórnios no mundo todo, com valor estimado de US$ 2,4 trilhões3. A eclosão da pandemia do coronavírus gerou flutuações de curto prazo no mercado, com a cautela dos investidores levando a uma desaceleração global no número de novas empresas que chegaram à marca de US$ 1 bilhão em valor; mas houve uma rápida recuperação desde então (Figura 1).

Figura 1. Número de unicórnios, Total Global, EUA, China e América Latina (2016-2021)

Fonte: Análise de dados do CrunchBase, pelo Economist Impact (2021). Acesso em 31 de agosto de 2021.
O gráfico mostra o número total de unicórnios em todo o mundo, nos Estados Unidos, na China e na América Latina no período 2016-2020. Em 2016, havia um total de 196 unicórnios no mundo, assim distribuídos: 107 nos Estados Unidos, 41 na China, 20 na Europa Ocidental, 1 na América Latina e 27 no resto do mundo. Em 2017, havia um total de 222 unicórnios no mundo, assim distribuídos: 112 nos Estados Unidos, 59 na China, 22 na Europa Ocidental, 1 na América Latina e 28 no resto do mundo. Em 2018, havia um total de 323 unicórnios em todo o mundo, assim distribuídos: 158 nos Estados Unidos, 86 na China, 31 na Europa Ocidental, 3 na América Latina e 45 no resto do mundo. Em 2019, havia um total de 439 unicórnios em todo o mundo, assim distribuídos: 216 nos Estados Unidos, 102 na China, 51 na Europa Ocidental, 9 na América Latina e 61 no resto do mundo. Em 2020, havia um total de 515 unicórnios em todo o mundo, assim distribuídos: 251 nos Estados Unidos, 121 na China, 55 na Europa Ocidental, 11 na América Latina e 77 no resto do mundo. Em 2021, havia um total de 779 unicórnios em todo o mundo, assim distribuídos: 388 nos Estados Unidos, 157 na China, 85 na Europa Ocidental, 23 na América Latina e 126 no resto do mundo.
A maioria dos unicórnios está baseada em grandes mercados como Estados Unidos, China e Europa Ocidental. Apenas 23 dos unicórnios globais identificados estão localizados na América Latina (em torno de 3% do total global), com um valor de mercado combinado de US$ 76,8 bilhões4. Dito isso, o número de unicórnios na região dobrou de 2020 a 2021, oferecendo uma previsão do dinamismo no mercado mais amplo de startups.

Figura 2. Número de unicórnios na América Latina (2016-2021)

Fonte: Análise de dados do CrunchBase, pelo Economist Impact (2021). Acesso em 31 de agosto de 2021.
O gráfico mostra o número de unicórnios na América Latina durante o período 2016-2021. Em 2016, apenas um unicórnio foi registrado na região, e em 2021 chegou a 23. Em 2016, o único país que registrou um unicórnio foi o Brasil, e em 2017 foi a Colômbia. Em 2018, foram identificados 3 unicórnios em toda a região, um deles no Brasil e dois na Colômbia. Em 2019, o número de unicórnios regionais passou para 9, sendo 6 deles no Brasil e 3 na Colômbia. Em 2020, o número de unicórnios regionais subiu para 11, 8 deles no Brasil, 2 na Colômbia e 1 no México. Em 2019, o número de unicórnios regionais passou para 9, sendo 6 deles no Brasil e 3 na Colômbia. Em 2020, o número de unicórnios regionais subiu para 11, 8 deles no Brasil, 2 na Colômbia e 1 no México. Em 2020, o número de unicórnios regionais era de 23, 14 deles no Brasil, 5 no México, 2 na Colômbia, 1 na Argentina e 1 no Chile.

Um foco mais estreito em unicórnios em potencial — uma classificação arbitrária — poderia ocultar a vasta gama de oportunidades de investimento em startups da América Latina. Há um histórico sólido de rápido crescimento em startups de média valoração, evidências de novos produtos e serviços inovadores de players já existentes no mercado — assim como uma região com sede de soluções criativas para acelerar os objetivos de desenvolvimento.

O Banco de Desenvolvimento Interamericano identificou mais de mil startups privadas de tecnologia em toda a América Latina — um número que mais do que triplicou desde 20165. Essas empresas valem mais de US$ 200 bilhões e empregam 245 mil pessoas. O financiamento por meio de Venture Capital está aumentando nas rodadas de financiamento preliminares, indicando que os investidores parecem estar ficando mais confortáveis e buscando empresas em um estágio mais inicial de desenvolvimento.

O Brasil e o México são responsáveis por cerca de 80% do valuation de startups privadas na América Latina. Mas mercados em rápido crescimento também podem ser encontrados em outros lugares, como Colômbia e Chile (veja Figura 3).

Figura 3. Financiamento cumulativo para as startups privadas de tecnologia que obtiveram ao menos US$ 1 milhão, países selecionados da América Latina (2016-2021)

Observação: As startups apresentadas têm no máximo 5 anos de idade e receberam pelo menos US$ 1 milhão em financiamento.

Fonte: Análise de dados do CrunchBase, pelo Economist Impact (2021). Acesso em 31 de agosto de 2021.

O gráfico mostra o financiamento acumulado por startups de tecnologia que receberam pelo menos US$ 1 milhão de capital em um grupo de países latino-americanos nos anos entre 2016 e 2021. Em 2016, as startups na Argentina receberam 10,7 milhões de dólares em financiamento externo, 2.611,3 no Brasil, 24,4 no Chile, 30 na Colômbia, 1.795,3 no México, 7,9 no Peru e 0 na Costa Rica. Em 2017, as startups na Argentina receberam 622,8 milhões de dólares em financiamento externo, 3121,5 no Brasil, 43,3 no Chile, 526,1 na Colômbia, 1994,3 no México, 9, 1 para o Peru e 1,5 para a Costa Rica. Em 2018, as startups na Argentina receberam 665 milhões de dólares em financiamento externo, 6.823,9 no Brasil, 205,9 no Chile, 1.017,4 na Colômbia, 2.274,8 no México, 11,6 no Chile, Peru e 1,5 na Costa Rica. Em 2019, as startups na Argentina receberam 724,7 milhões de dólares em financiamento externo, 7.398,2 no Brasil, 455,6 no Chile, 1.339,6 na Colômbia, 3.031,3 no México, 16,9 no Peru e 1,5 na Costa Rica. Em 2020, as startups na Argentina receberam 726,5 milhões de dólares em financiamento externo, 7.398,2 no Brasil, 455,6 no Chile, 1.339,6 na Colômbia, 3.031,3 no México, 16 9 para o Peru e 1,5 para a Costa Rica. Em 2021, as startups na Argentina receberam 736,5 milhões de dólares em financiamento externo, 7.423,2 no Brasil, 455,6 no Chile, 1.342,6 na Colômbia, 3.034,5 no México, 16, 9 para o Peru e 1,5 para a Costa Rica.
Investidores interessados no mercado de startups privadas estão fortemente concentrados em fintech e e-commerce, que representa três quartos do valor estimado do ecossistema6, apesar de representar somente 42% do número de empresas (ver Figura 4).

Figura 4. Startups da América Latina por setor (2021)7

Esses dois gráficos mostram a distribuição setorial das startups na América Latina em 2021. As startups mostradas têm até 5 anos e receberam pelo menos US$ 1 milhão em financiamento.  Em termos de número de empresas, o setor Fintech é o mais destacado (126), seguido de e-commerce (41), software / TI (35), saúde (33), imobiliário (22), alimentos e bebidas (18) , transporte (16), energia limpa (16), edtech (15), logística (14), agritech (13), automotivo (10), recursos humanos (9), legaltech / insurtech (7), viagens (5), segurança / cibersegurança (5), entretenimento (4), publicidade (4), telecomunicações (3), biotecnologia (3) e outros (2). Em termos de porcentagem de recursos recebidos, o setor de Fintech é o mais destacado (48,4%), seguido por automotivo (12,1%), energia limpa (11,7%), e-commerce (10,3%), mobilidade (3,7%), saúde ( 2,6%), alimentos e bebidas (2,5%), imobiliário (2,3%), software / TI (1,7%), viagens (1,5%), agtech (1,1%), logística (0,7%), edtech (0,5%) , tecnologia jurídica / insurtech (0,3%), entretenimento (0,2%), biotecnologia (0,1%), segurança / cibersegurança (0,1%), recursos humanos (0,1%) e outros (0,1%).

Dentro da América Latina, o Brasil se destaca. O país conseguiu estimular o crescimento de startups de alto valor (14 dos 22 unicórnios da região estão no Brasil, por exemplo) e se destaca em comparação a outras economias globais de tamanho semelhante, como a Indonésia (que tem cinco unicórnios)8. O mais importante é que o mercado do Brasil demonstra a oportunidade além dos unicórnios. O número de startups no Brasil que obtiveram mais de US$ 1 milhão em financiamento por meio de Venture Capital quadruplicou desde 2016 9. O ecossistema robusto de startups do Brasil é possível por conta de uma população de usuários de internet grande e jovem e que é altamente urbanizada. Ao mesmo tempo, os investidores globais foram atraídos ao Brasil por conta do tamanho de seus mercados locais de bens e serviços e o comprometimento do governo em apoiar a inovação. Essa combinação de tamanho de mercado, demografia e altos níveis de conectividade posicionou bem o Brasil como um campo fértil para startups financiadas por Venture Capital.

O crescimento de startups privadas na América Latina tem potencial para desencadear transformações econômicas positivas, como visto em alguns dos principais clusters de inovação no mundo todo, como nos Estados Unidos, Índia e China, onde as startups promoveram novas oportunidades de mercado e melhoraram o acesso a serviços importantes como saúde, serviços financeiros e educação a preços acessíveis – o que é um fator crítico para a América Latina.

Proporcionar um ecossistema vibrante de startups exige um esforço coordenado entre os governos e o setor privado para promover a prontidão e inclusão digital, assim como um ambiente político, regulatório e economicamente favorável e harmonioso. Startups e clusters de startups muitas vezes crescem organicamente, ofertando serviços relacionados a clientes do mesmo setor (assim aumentando a concorrência) ou lançando novos produtos em outros setores (promovendo a inovação). Entretanto, desenvolver ecossistemas vibrantes de tecnologia requer visão e estratégia coordenadas de mais longo prazo.

Seja uma nova empresa esperando conseguir injeções de capital de larga escala, um governo esperando apoiar um setor privado mais dinâmico ou um investidor tentando estar à frente na curva, não há receita única para o sucesso. Entretanto, há fundamentos comuns que apoiam um ambiente dinâmico de startups. Entender os principais fundamentos de países e setores que atingiram sucesso na criação de um mercado vibrante para as startups oferece uma perspectiva importante sobre oportunidades.

Economist Impact identificou 19 indicadores em quatro áreas chave que refletem a força do ambiente favorável a startups de um país, de forma a apoiar a tomada de decisão dos investidores (ver Figura 4).

Figura 5. Indicativos de um ecossistema saudável de startups

Indicativos de um ecossistema saudável de start-ups: prontidão digital, inclusão digital, políticas e regulamentações, e condições macroeconômicas e ambiente de negócios. Para acessar os dados de base e a metodologia utilizados para esta análise, por favor, consulte o Apêndice.

Uma rápida análise sobre os facilitadores do ecossistema de startups na América Latina

Economist Impact analisou sete mercados da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, México e Peru) de acordo com os 19 indicadores acima, juntamente com quatro países internacionais para comparação (EUA e China — grande mercado de startups — e Indonésia e África do Sul — economias de tamanhos semelhantes).

Prontidão digital

Prontidão digital é um facilitador importante para o ecossistema de startups e requer investimentos que vão da infraestrutura à segurança cibernética. Na América Latina, reforçar os serviços de e-government e segurança cibernética são oportunidades importantes. A pandemia de COVID-19 tornou clara a importância de uma infraestrutura digital robusta. Em países em que o setor financeiro ou o governo investiram previamente na infraestrutura digital financeira, os legisladores foram capazes de usar canais de distribuição digitais para rapidamente desembolsar transferências de dinheiro e outros apoios necessários aos beneficiários. No Brasil, por exemplo, em torno de 67 milhões de indivíduos receberam pelo menos um aporte em dinheiro desde abril de 2020. Até agosto, os beneficiários utilizaram em torno de 40% dos fundos para realizar pagamentos digitais a serviços de concessionárias de serviços públicos, empresas e para a internet. Essa infraestrutura digital robusta sinaliza uma grande oportunidade.

Entretanto, a segurança cibernética é uma área de preocupação para as startups da região, e com razão. De acordo com o Global Cybersecurity Index10, do ITU, todos os sete países analisados têm ainda bastante espaço para reforçar as proteções e promover o crescimento de mercados importantes, incluindo o e-commerce.

Do mesmo modo, investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é outra área de oportunidade para promover um ecossistema mais forte de startups em países da América Latina, especialmente em mercados menores. O gasto com P&D do Peru, por exemplo, representa apenas 0,1% do seu PIB, em comparação a 1,2% no Brasil, 2,1% na China e 2,8% nos Estados Unidos.

Inclusão digital

A qualidade e a inclusividade da infraestrutura digital é outro fator importante que muitas vezes é deixado de lado nas discussões. O nível de inclusão na América Latina apresenta um cenário misto. De acordo com o índice Inclusive Internet Index, do Economist Impact 11, Costa Rica, México e Argentina têm os mais altos níveis de uso de internet dos países da América Latina da nossa amostra, ficando pouco atrás da China. Surpreendentemente, China, México e Argentina também são os países em que as pessoas têm as percepções mais favoráveis (ex.: maior confiança) sobre a privacidade online.

Entretanto, a qualidade dos serviços de internet, mensurados por um indicador composto que avalia velocidade da banda larga, latência e capacidade, é mais fraca nos países da América Latina do que em líderes globais como China e Estados Unidos, o que pode explicar, em parte, porque ainda há espaço para as startups dependentes de tecnologia crescerem na região.

Políticas e regulamentações

Um ambiente político e regulatório que seja propício a investimentos em inovação deve equilibrar várias prioridades de curto e longo prazo, incluindo a necessidade de regulamentação contra criar um espaço para a inovação. The Global Microscope, um índice do Economist Impact que avalia o ambiente favorável para inclusão financeira, identificou a importância da "proporcionalidade" regulatória — ou seja, a regulação deve ser proporcional ao risco ao sistema financeiro. Também deve ser proporcional ao tipo ou função de um produto, o que significa que um banco que empresta todos os tipos de produtos e serviços financeiros, por exemplo, será regulado de maneira diferente do que uma carteira de e-money que só pode ser usada para pagamentos. Um indicador qualitativo, que avalia se os países têm um arcabouço jurídico proporcional para serviços emergentes como empréstimos entre pares e crowdfunding, sugere que o Chile e a Costa Rica estão ficando para trás quando se trata da regulação proporcional no setor de tecnologia financeira.

Outra prática importante na regulação da inovação é a harmonização com normas internacionais. Medidas contra a lavagem de dinheiro, proteção do consumidor e políticas de privacidade de dados são especialmente importantes para um mercado de startups prosperar. Essa é uma área em que os países da América Latina estão relativamente fortes em relação aos seus pares globais, apesar de o Brasil e a Costa Rica ficarem para trás em regulação contra a lavagem de dinheiro, de acordo com dados do Microscope.

Condições macroeconômicas e ambiente de negócios

Por último, os investidores devem sempre levar em conta o risco e o ambiente de negócios do país de maneira geral, o que tem um impacto direto na demanda do consumidor e na viabilidade para investimentos de longo prazo. Aqui, o cenário regional é uma mistura de oportunidade e incerteza.

A grande economia do Brasil está mostrando maior resiliência a uma "segunda onda" de infecções por COVID-19, e espera-se que se recupere mais rápido do que o esperado para os níveis de antes da crise em 202112.  A Argentina continua a enfrentar volatilidade econômica, pressões de moeda e aguarda um pacote do FMI para recuperar a estabilidade. Os mercados menores demonstram ser promissores — como a Costa Rica. Apesar do seu tamanho, a Costa Rica tem um dos ambientes mais atraentes para negócios na América Latina, de acordo com as classificações Business Environment Rankings do Economist Impact, que mostram estabilidade política, mão-de-obra qualificada e baixa carga tributária.


Para complementar os esforços para melhorar o ambiente favorável, uma gama de governos de toda a América Latina lançaram programas direcionados a startups de maneira mais ampla (incorporando PMEs, assim como empresas de crescimento mais rápido). O governo colombiano tem buscado desenvolver as regiões metropolitanas como hubs de startups, por meio da parceira da sua INNPulsa com a HubBog, em Bogotá, e a incubadora Ruta N, em Medellín13. O Chile teve um programa público de aceleração para novas startups por uma década, incluindo um investimento inicial que oferece uma gama de benefícios (tanto financeiros quanto não financeiros)14. A Costa Rica também tem programas para estimular a inovação em áreas como a segurança cibernética15.

E não são só os governos que estão desenvolvendo esses esforços: as empresas na região também estão tomando uma atitude muito mais proativa para impulsionar a inovação. No início de 2020, o Grupo Bimbo, uma empresa alimentícia mexicana multinacional, lançou dois programas de aceleração — Eleva e BakeLab — nos quais convida startups para apresentarem novas ideias de produtos com o potencial de escalar globalmente, seja por meio de investimentos do Grupo Bimbo ou uma aliança comercial16. A AB InBev, uma cervejaria brasileira, também tem estado ativa, lançando a 100+ Accelerator em 2018, que busca encontrar startups com soluções de mercado viáveis e interessantes17. Nos primeiros dois anos do programa, a AB InBev escalou 23 das 39 startups que se inscreveram, incluindo empresas da Argentina e Uruguai.

Muito da literatura existente que olha para o potencial de crescimento das startups na América Latina tem o foco primordial, se não exclusivo, em fintechs (o que não é surpresa alguma, já que as empresas de tecnologia financeira representam cerca de um terço das startups da região). Soluções digitais inovadoras oferecidas por novas empresas provedoras de fintech têm foco em uma área grande e mal atendida do mercado de serviços financeiros. Há potencial adicional dada a fina penetração de serviços bancários tradicionais na região, que fica em menos de 50% na maior parte da América Latina, e é ainda mais baixa em alguns lugares, como 40% no México.18 O rápido crescimento desse setor agora está se deparando com novas regulações. O México foi um dos primeiros países a aprovar legislação para regular as fintechs. Outros países, inclusive o Peru e a Argentina, provavelmente farão o mesmo em breve.

Entretanto, outros setores, como educação e serviços de saúde, que são comparativamente menos desenvolvidos que em outros países no mundo, também podem estar destinados a um rápido crescimento. As proposições de startups bem sucedidas na América Latina normalmente focam em oferecer soluções localizadas, o que, para a região, normalmente envolve serviços para setores na base da pirâmide, em áreas em que a provisão do setor púbico tenha sido mais fraca, incluindo saúde e educação. Em comparação, o e-commerce era mais desenvolvido antes da pandemia — e desde então tem apenas acelerado, com empresas novas e já existentes aumentando suas ofertas de e-commerce.

Governos, investidores e startups da América Latina foram seduzidos pela ascensão dos unicórnios em todo o mundo, o que influenciou a forma como as oportunidades de investimento na região foram avaliadas. Olhando para o futuro, algumas novas empresas sem dúvida vão conseguir ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado, provavelmente em uma maior variedade de países do que o atual número limitado. Uma explosão de unicórnios é improvável na região, já que muitos países se mantêm limitados pelo tamanho pequeno do mercado, uma infraestrutura digital que está crescendo lentamente ou um cenário regulatório em desenvolvimento — ou, em alguns casos, todos os três. Enxergar isso de modo pessimista, entretanto, seria ignorar o panorama mais amplo: há boas oportunidades em empresas menores, que oferecem grande potencial de retorno em setores como varejo, serviços financeiros, saúde e educação — e, mais importante, podem desbloquear o crescimento econômico e ajudar a região a atingir seus objetivos de desenvolvimento. Os países que têm sido proativos no incentivo às startups, principalmente por meio de reformas para melhorar o ambiente de negócios subjacente, estão mais bem posicionados para se beneficiar do futuro crescimento de investimentos.

 

1 Neste artigo, utilizamos o termo "startups" para nos referirmos a empresas baseadas em tecnologia nos estágios iniciais de operação, normalmente com 3 a 5 anos de operação, com custos altos e receita limitada.

2 As definições de unicórnio variam dependendo da fonte. Neste artigo, definimos unicórnios como empresas de propriedade privada, com um valor de mercado estimado em US$ 1 bilhão ou mais, com base em rodadas de financiamento. Essa definição está alinhada com a usada pela CrunchBase, a principal fonte de dados sobre mercados privados de financiamento usada neste artigo. As empresas que migraram para os mercados de financiamento público foram excluídas dessa definição.

3 Cálculos da Economist Impact baseados em dados a nível de empresa da CrunchBase. Todos os cálculos de valuation são feitos em dólares americanos. Acesso em 31 de agosto de 2021.

4 Cálculos de Economist Impact com base em dados de CrunchBase. Acesso em 31 de agosto de 2021.

5 Ver https://publications.iadb.org/en/tecnolatinas-2021-lac-startup-ecosystem-comes-age. Observe que a análise IDB está baseada em conjuntos de dados, estimativas e análises de mídia adicionais, além da CrunchBase.

6 Ver https://publications.iadb.org/en/tecnolatinas-2021-lac-startup-ecosystem-comes-age.

7 As empresas foram catalogadas conforme o principal setor em que atuam para evitar duplicidade. Para fins de coerência, foram combinados os setores concorrentes em indústrias semelhantes.

8 Cálculos de Economist Impact com base em dados de CrunchBase. Acesso em 31 de agosto de 2021.

9 Cálculos de Economist Impact com base em dados de CrunchBase. Acesso em 31 de agosto de 2021.

10 ITU Global Cybersecurity Index 2020 Report. Nações Unidas..

11 O índice Inclusive Internet Index, do Economist Impact, mede a extensão em que a internet não é só acessível e barata, mas também relevante para todos, permitindo um uso que alavanque resultados sociais e econômicos a nível individual e coletivo. Ver: https://theinclusiveinternet.eiu.com/

12 Todas as visões provenientes de Economist Impact Country Analysis.

13 Ver https://www.rutanmedellin.org/es/ and https://hubbog.com

14 StartUp Chile, https://www.startupchile.org/

15 Ver https://innovation.mit.edu/assets/MIT-GE-EPIC-final_April-2021_FINAL-2.pdf

16 Ver https://grupobimbo.com/en/innovation-grupo-bimbo/bimbo-ventures

17 Ver https://www.ab-inbev.com/sustainability/100-accelerator/.

18 World Bank Findex. Ver https://globalfindex.worldbank.org/ Acesso em 31 de agosto de 2021.

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