Estratégia de investimento

Um pouco sobre a economia por trás do populismo

23 de ago de 2022

Os governos populistas podem ser de qualquer ideologia política, mas muitos deles repetem padrões econômicos semelhantes.

O populismo é um velho conhecido da América Latina. Tem estado presente no continente há cerca de um século e quase todos os países apresentam sua própria safra de líderes populistas. O populismo pode ter inclinações à esquerda ou à direita e a sua principal característica é a polarização da sociedade que representa. Um líder populista alega que representa os indivíduos que são historicamente negligenciados pelos grupos que detêm o poder econômico/político. No âmbito global, o populismo vem crescendo em muitos países e surge como a “grande mudança” que pode resolver as principais questões socioeconômicas de uma sociedade, sem importar o quão profundamente enraizadas elas estejam. Para isso, frequentemente, serve-se de políticas econômicas e monetárias que desafiam os princípios econômicos ortodoxos. Mais recentemente, o populismo também tem se caracterizado por um alinhamento com a China, uma vez que as alianças ocidentais tradicionais têm sido questionadas.

No final de maio deste ano, houve eleições presidenciais na Colômbia e Gustavo Petro foi eleito como o primeiro presidente de um partido de esquerda no país. A vitória do ex-guerrilheiro ocorre após uma campanha que promete fazer uma reforma profunda do sistema tributário, uma rápida transição para fontes de energia renováveis, uma política de protecionismo industrial voltada para substituir as importações, uma reforma no sistema previdenciário e subsídios de créditos, entre outras medidas. Além dos argumentos referentes à viabilidade econômica de suas pautas políticas, seu forte discurso antissistema e sua abordagem antagônica com relação à mídia local têm levantado dúvidas sobre se, de fato, o novo governo irá lidar com as persistentes desigualdades econômicas da Colômbia ou se irá apenas criar ainda mais obstáculos para o potencial crescimento econômico do país.

Este gráfico mostra o índice de desigualdade GINI em 2021 ou posterior disponível. O país com o nível mais alto de desigualdade é a África do Sul (0,62), seguido por diversos países da América Latina: Costa Rica (0,49), Brasil (0,48), Chile (0,46) e México (0,42). O país com o índice mais baixo de desigualdade é a Alemanha (0,29).

Petro é o mais novo integrante de uma longa lista de líderes populistas que têm dominado o cenário político da região nos últimos 20 anos. Embora as políticas sejam, de fato, determinadas pelas idiossincrasias de cada país, há pontos em comum entre os governos:

1. O crescimento diminui à medida que o consumo cai pela falta de investimentos e de criação de empregos. Isto resulta em governos altamente endividados e, conforme se vê no gráfico abaixo, em geral, a situação gera inflação alta. Essas consequências surgem enquanto o déficit fiscal aumenta, principalmente resultado do financiamento das despesas correntes. Além disso, há um interesse comum no aumento da penetração de crédito, especialmente a disponibilidade para os grupos com baixos níveis de acesso aos serviços financeiros tradicionais. O único governo em nossa amostra durante o qual o crescimento econômico realmente melhorou foi nos mandatos de Lula, no período de 2003-2010 no Brasil, o que pode ser atribuído ao superciclo de commodities ocorrido nessa época.

Este gráfico mostra a mudança, em pontos base, de diversos indicadores econômicos no meio e no final das administrações populistas na América Latina: PIB: mudança no meio (-52 bps) e no final (-254 bps) Saldo orçamentário do Governo: mudança no meio (-79 bps) e no final (-328 bps) Dívida líquida/PIB: mudança no meio (8.179 bps) e no final (18.883 bps) IED: mudança no meio (-166 bps) e no final (-303 bps) Inflação: mudança no meio (-139 bps) e no final (-89 bps)
2. Foco na reforma da previdência, especialmente considerando o elevado grau de desigualdade na região e baixas taxas de reposição. Historicamente, as reformas da previdência têm sido voltadas para estabelecer ou fortalecer os esquemas de distribuição vigentes a fim de aumentar os limites de investimento e o acesso para a população. No entanto, mais recentemente, alguns governos (Andrés Manuel López Obrador no México e Gabriel Boric no Chile) também têm questionado a natureza privada dos sistemas previdenciários de seus países e levantaram questões acerca de uma possível nacionalização.
Este gráfico mostra a renda disponível (líquida e bruta) em outubro de 2021: •Brasil: Líquido 97,3; bruto 88,4 •Itália: Líquido 81,7; bruto 74,6 •Espanha: Líquido 80,3; bruto 73,9 •Turquia: Líquido 103,3; bruto 73,3 •Costa Rica: Líquido 76; bruto 71,9 •México: Líquido 68,6; bruto 61,2 •França: Líquido 74,4; bruto 60,2 •Grã-Bretanha: Líquido 58,1; bruto 49 •Suíça: Líquido 50,7, bruto 44,1 •Alemanha: Líquido 52,9; bruto 41,5 •Estados Unidos: Líquido 50,5; bruto 39,2 •Canadá: Líquido 46,4; bruto 38,8 •Japão: Líquido 38,7; bruto 32,4 •Chile: Líquido 38,5; bruto 31,2 •África do Sul: Líquido 16,2; bruto 14,9

3. Ênfase nas exportações de commodities do país. A América Latina tem um alto potencial para commodities: de produtos alimentícios a petróleo, as commodities, como um todo, representam em média 76% das exportações totais dos nove principais países da região1. Muitos líderes populistas tiraram vantagem da riqueza dos recursos naturais dos seus países e do superciclo das commodities para financiar despesas sociais e vigentes (a Venezuela e o Brasil, com Lula). Alguns outros, independentemente das oscilações do mercado, são inflexíveis em relação ao controle estatal sobre as riquezas naturais do país.

4. Desafio às instituições e ao estado de direito. Processos de tomada de decisão mais centralizados. Potencializando o descontentamento social generalizado e a polarização política, os movimentos populistas tendem a levantar a bandeira de “para grandes problemas, grandes soluções”(do espanhol, “a grandes problemas, grandes soluciones”). Esses governos têm apresentado em grande parte um alto grau de concentração de poder no núcleo do governo, junto com um baixo grau de mecanismos efetivos de responsabilização. O desprezo pelo estado de direito resulta em um ambiente ainda mais hostil para o investimento e a criação de empregos, e alimenta o ciclo de feedback negativo no qual o líder populista é inimigo do capital privado e dos governos estrangeiros com uma consequente criação limitada de empregos. Na história recente, o Brasil tem sido uma exceção, com os julgamentos da operação Lava Jato que mostraram a força das instituições do país, independentemente de quem esteja na presidência.

Este gráfico mostra o índice do Estado de Direito, um fator de 1 (WJP), em 2021. O país com o mais alto nível de Estado de Direito é a Dinamarca (0,94), seguida por Noruega (0,94) e Finlândia (0,92). Por outro lado, o país com o nível mais baixo de Estado de Direito é a Venezuela (0,17), seguida pela China (0,31) e Honduras (0,33).

A economia se importa, mas os mercados não
 

Em nossa análise dos últimos oito governos populistas da região, descobrimos que embora os indicadores macroeconômicos se deteriorem visivelmente, conforme se observa no segundo gráfico acima, a reação dos mercados à deterioração limita-se a uma brusca depreciação da moeda. Para nossa surpresa, os mercados acionários reagem positivamente tanto com a aceleração do crescimento nos rendimentos quanto com índices de ações apresentando um melhor desempenho que os benchmarks. Os mercados de renda fixa se mostram mais cautelosos, conforme as taxas crescem junto com o aumento dos déficits. O que fica claro e é uma constante em todos os países analisados, é que embora a reação inicial do mercado de câmbio a um governo populista pareça um tanto quanto tímida, ela é compensada, mais adiante, à medida que as moedas locais são fortemente desvalorizadas em relação ao dólar, conforme o cenário macro do país piora.

Este gráfico mostra a mudança, em pontos base, de diversos indicadores econômicos no meio e no final das administrações populistas na América Latina: FX: mudança no meio (-73 bps) e no final (-560 bps) Crescimento LPA ações (MSCI): mudança no meio (563 bps) e no final (1034 bps) Mercado acionário (MSCI): mudança no meio (-862 bps) e no final (1320 bps) CDS (Credit Default Swap) 5 anos: mudança no meio (-310 bps) e no final (-593 bps) Taxa overnight: variação no meio (333 bps) e no final (217 bps)

O que está por vir? Visibilidade na Colômbia e corrida presidencial no Brasil
 

O presidente Gustavo Petro acaba de tomar posse no início de agosto, portanto, embora sua retórica tenha levantado suspeitas, seus compromissos e suas ações políticas futuras serão cruciais para determinar o futuro da política na Colômbia. Além disso, o fato de que sua presidência teve início no contexto de um Congresso fragmentado, com nenhum partido ou coalizão ocupando a maioria dos cargos, obrigará o governo a fazer concessões e negociações para levar adiante as pautas de Petro.

No Brasil, as pautas tanto de Lula quanto de Bolsonaro podem ganhar uma roupagem mais populista, contudo, o respeito do país pelas instituições e o pragmatismo dos candidatos devem reduzir o risco de políticas econômicas ou sociais mais radicais.

No que se refere aos principais indicadores a serem observados, como se pode concluir a partir do que foi exposto, o déficit do governo e as tendências estruturais do mercado de câmbio devem ser acompanhadas de perto para se determinar se há ou não motivo para preocupação. Do ponto de vista do longo prazo, é difícil pensar em um cenário livre de populismo na região até que a persistente dívida social da desigualdade na América Latina seja, ao menos parcialmente, resolvida.

 

1Fonte: J.P. Morgan Investment Bank. Os principais países são Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Brasil, México, Argentina, Chile, Uruguai.

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